Pietro Enrico Menegatti de Chiara

 ENTRE CAURIS, JINNS E CASAMENTOS: AS MALDIVAS POR IBN BATTUTA [1304 - 1377]

 

As Maldivas, localizadas a sudoeste da Índia, são um conjunto de ilhas imersas na complexidade do Oceano Índico, seja no passado ou no presente. Os movimentos históricos maldivos podem ser vislumbrados por certas fontes, tanto arqueológicas, quanto escritas. A de Ibn Battuta é uma delas. Apesar de ser um olhar estrangeiro de alguém que não falava a língua local, o seu relato é importante para analisar muitas questões nas ilhas, principalmente no século XIV.

 

Antes de dar prosseguimento a essa análise, é importante conhecer Ibn Battuta e como essas ilhas, cerca de 8700 quilômetros do seu local de partida, Tânger, fizeram parte do seu itinerário. Sua viagem inicia-se em 1325 com o intuito de peregrinar a Meca, portanto seu itinerário estendeu-se além da Península Arábica. Ele esteve no Egito, na costa africana índica, na Anatólia, em Constantinopla, na Índia, nas Maldivas, na China, em al-Andaluz, na África subsaariana, entre outros locais. Cerca de 30 anos e mais de 100 mil quilômetros percorrido em grande parte do mundo conferiram o título a ele de “príncipe dos viajantes”. Com o apoio do sultão Abu Inan Faris, ele narrou a sua jornada para Ibn Juzayy, poeta andaluz, que escreveu sua jornada em um texto comumente chamado de rihla. Sem dúvidas, ela é uma fonte importantíssima que faz o historiador tanto da história indiana ou da África subsaariana, por exemplo, consultarem a mesma obra.

 

Obviamente, o viajante se deparou com inúmeros universos em torno dele, tanto imersos no seio do Islã, quanto fora. Entretanto, é imprescindível reconhecer a natureza discursiva construída por Ibn Battuta, já que uma narrativa de 30 anos seria afunilada e muitas escolhas e silenciamentos foram feitos a partir do que ele presenciou ou ouviu falar. Isso tudo depende de uma série de fatores. Um deles é que ele escreve para um público maghrebino, e, a partir disso, faz uma série de construções narrativas com o intuito de tornar sua história mais verossímil, compreensível ou transmitir uma certa mensagem para o seu leitor e/ou ouvinte.  O próprio outro e como ele se organiza a partir da representação está imerso a uma lógica de significação permeado pelas intencionalidades.

 

Ibn Battuta, após atuar como qadi no Sultanato de Delhi, na Índia, foi encaminhado para a China como enviado especial do Sultão. Portanto, a viagem, que só poderia ser feita por meio de navios chineses, dá errado e as Maldivas se transformam no seu destino Mesmo demonstrando sua intenção de sair do local logo no começo, ele se envolve em questões de Estado que marcam um fim da sua permanência de maneira conturbada. O ano de saída que ele aponta de sua saída das Maldivas é 1344 e a sua estadia dura 18 meses.

 

O maghrebino encontra ali uma povoação relativamente antiga e com uma linguagem diferente das encontradas no continente. As próprias lendas de Shihabuddine apontam que a chegada dos primeiros colonos é anterior à do imperador Asoka, ou seja, antes do segundo século antes da era comum. [MOHAMED, 2005, p. 7]. Portanto, como o próprio relato é lendário, não é possível traçar uma data exata do assentamento humano nas ilhas. Mesmo assim, sabe-se que ela era habitada desde muito tempo antes da chegada de Ibn Battuta e que o budismo era a religião de Estado antes do Islã.

 

Além disso, as ilhas, desde a antiguidade, estavam conectadas e participavam das rotas de comércio que envolviam o Oriente Médio, o Extremo Oriente e a África oriental. Uma prova disso é o achado arqueológico de uma moeda romana no local. Entretanto, como aponta Forbes [1984, p. 57], não há uma ligação direta entre as Maldivas e o Mar Medieterrâneo durante essa época. Mas, mesmo assim, é importante destacar que o local estava conectado nessa teia na qual circulavam tanto produtos, quanto culturas. Foi a partir delas que chegaram o Islã e Ibn Battuta. No século XIV não foi diferente, além de mencionar um comércio ativo com a Índia e o Sudeste Asiático, Ibn Battuta cita itens que são trazidos de Mogadíscio, na África Índica, e a presença de comerciantes iemenitas. E, além disso, como destaca Fanjúl e Arbós [2017, p. 91], em uma época, um terço da arrecadação do local tinha destino aos viajantes.

 

Cauris e contatos comerciais

A partir dessas relações pode-se destacar o trânsito de cauris, conchas com uso comercial na região, a qual é possível atestar sua presença em diversas partes do globo. Na própria África Subsaariana, por exemplo, esses objetos foram utilizados como moeda, assim como destaca al-Umari [2000, p. 269]. O papel das Maldivas na circulação desse objeto, principalmente ao falar do Sudão, é crucial, uma vez que as ilhas foram, por muitos séculos, a principal, senão a única, fornecedora dos cauris. [CANDOTTI, 1991, p. 322]. Por mais que possa parecer improvável, os contatos da época e a posição maldívia nas redes comerciais mostra que foi completamente possível essa relação entre essas duas áreas distantes, mesmo que de forma indireta. Candotti [1991, p. 324-327] aponta que, ao sair das Maldivas, elas chegariam em diversos mercados, para finalmente chegar ao Norte da África e ao Sudão a partir das rotas transaarianas.

 

A presença dessas conchas na África subsaariana foi atestada primeiramente por al-Bakri [2000, p. 83], um autor do século XI ao descrever Kougha, cidade próxima a Gana. Além dele e de al-Umari, a própria Geniza do Cairo e Leão, o Africano apontam a circulação dos cauris. Porém, dentre eles, nenhum faz uma relação às Maldivas. Quem vai apontar isso é justamente Ibn Battuta:

 

“Nas Maldivas são utilizadas como moeda as conchas [wada'] de um molusco coletado no mar e colocado em buracos cavados na costa, até que a carne seja consumida e só permaneça um osso branco. [...] Com elas compram arroz em Bengala, pois neste país também a usam como moeda; os iemenitas também as aceitam, porque são usadas para o lastro dos navios ao invés da areia. Essas conchas são também a moeda utilizada no país dos negros: eu vi no Mali e em Gao trocarem 1150 dessas peças por um dinar de ouro.” [IBN BATTUTA, 2017, p. 851, tradução minha]

 

Ibn Battuta vai de encontro com as pesquisas históricas ao vislumbrar essas relações.  O fato dele visitar os dois lugares contribuiu para poder notar isso. Além disso, o relato do uso das conchas como lastro em navios iemenitas dá a entender que uma grande quantidade delas circulava pelo Oceano Índico. A partir dessas fontes, pode-se entender melhor a importância das Maldivas nessas redes comerciais. Outro fato interessante para perceber isso, mesmo que fuja um pouco do recorte estabelecido neste texto, é quando Portugal, ao formar seu império ultramarino, importa esses cauris em demasia diretamente das Maldivas para utilizar na região da Guiné. 

 

Islã e a conversão

Além de fornecer informações acerca dos cauris, o viajante também apresenta uma história lendária sobre a conversão maldiva ao Islã. Contada por homens de confiança, de acordo com ele, o mito afirma sobre um homem maghrebino que se hospeda nas ilhas e se depara com um monstro marinho que afrontava a população todos os meses. Para acalmar essa situação, os locais tiravam a sorte entre eles e deixavam uma mulher virgem para ele. Na manhã seguinte, ela era encontrada deflorada e morta. Na sua estadia, esse homem, Abu-l-Barakat al-Barbari, se oferece para ficar no lugar da moça escolhida do mês. Ao chegar no alojamento, recita o Alcorão, e na manhã seguinte, para surpresa dos habitantes, ele continuava lendo o texto sagrado.  O governante foi informado disso e após passar mais um mês, o mito atesta que há uma conversão imediata não só de governante, mas de grande parte da população.

 

Os mitos de conversão são importantes para analisar e perceber o vínculo do Islã com as maneiras de interpretar o mundo local. Nesse sentido, como Stephanie Smith [2019] destaca, é interessante perceber que eles também mostram um envolvimento ativo com epistemologias islâmicas que são articuladas por meio da linguagem cultural de cada comunidade. Por mais que a islamização seja um processo gradual, é ilógico vê-la como um processo puramente superficial. O próprio mito narrado por Ibn Battuta traz temas originais do Islã, como os jinns e a recitação do Alcorão e configura uma forma imaterial para explicar essa nova identidade. Ademais, não é expresso em uma narrativa que não tenha verossimilhança para as Maldivas. Stephanie Smith aponta que provavelmente a forma abstrata que esse jinn assume parece indicar elementos locais. Portanto, nesse aspecto, não se pode deixar perder de vista o paradoxo do desenvolvimento religioso apontado por Clifford Geertz [2004, p. 27-28], no qual as religiões, ao lidar com um âmbito cada vez mais amplo de experiência espiritual, se tornam mais precárias a medida que avançam.

 

A partir disso, vale a pena observar que Ibn Battuta elenca um maghrebino berbere como a figura que converte a liderança das Maldivas. Por mais que não fosse completamente improvável o fluxo de inúmeros estrangeiros nas ilhas imersos nos contatos comerciais, narrar esse personagem como um maghrebino parece ser uma estratégia narrativa que agradaria o seu público ocidental islâmico. O que fortalece isso é que tal figura não é um consenso dentre outras fontes acerca da história maldívia e geralmente, aparece associado ao Ibn Battuta. O próprio tarikh das Maldivas  escrito no século XVIII, com intuito de registrar a história do local, por exemplo, aponta Yusuf Shams al-Din al-Tabrizi como responsável por converter o rei Siri Bavanaditta, o primeiro a aceitar o Islã, de acordo com a tradição. [HASAN TAJ AL-DIN, 1984, p. 192]. Tal homem vem do Tabriz, no atual Azerbaijão, e não do extremo ocidente do Islã. Apesar do próprio Tarikh, como destaca Andrew Peacock [2020], também estar inserido em um contexto e servir a determinados propósitos, é possível ver que não há uma concordância geral acerca desse personagem.

 

Outro ponto que ajuda a pensar acerca do Islã nas ilhas é o papel de Ibn Battuta lá, pois ele atua como qadi [juiz islâmico]. Apesar de estar constantemente em movimento, em alguns momentos, Ibn Battuta ficou temporadas maiores em alguns locais que ele visitou. Um deles é a Índia, no Sultanato de Delhi, no qual ele também atuou como qadi mesmo manifestando que ele seguia uma madhhab diferente da local e não falava o persa, língua administrativa do Estado. Nas Maldivas, mesmo passando um tempo menor que na Índia, passa pelas mesmas questões que antigamente. A partir do casamento com uma mulher da família real, ele é, nas palavras dele, forçado a aceitar o cargo. Mesmo o viajante aprendendo o persa, a principal língua de administração nas ilhas após a chegada do Islã permaneceu o dhivehi. [PEACOCK, 2020, P. 199]. A partir disso, Ibn Battuta reconhece tais questões complexas e de que estava administrando um mundo diferente do que o que ele foi formado: “Uma vez nomeado qadi, usei todos os meus esforços para fazer cumprir as prescrições da lei, tendo em conta que os pleitos não se levam da mesma maneira que em nosso país” [IBN BATTUTA, 2017, p. 768, tradução minha].

 

Ibn Battuta, normalmente, estava acostumado a observar o outro, mas com a posição de qadi, ele possui poder jurídico sobre ele. Inicialmente, o maghrebino narra que o primeiro costume que ele altera é a da permanência das esposas na casa do marido mesmo após o divórico. Para fazer cumprir isso, por mais que ele reconhecesse as diferenças, ele açoitou alguns homens, o que mostra rigorosidade do viajante. Aparentemente, isso parece ter tido sucesso, entretanto, nem todas as suas ações tiveram êxito. Uma delas, por exemplo, foi a tentativa de vestir as mulheres. A efeito de comparação, a nudez feminina também o incomoda quando ele esteve na África subsaariana, porém ele não tinha o poder de legislar contra isso ali. Nas Maldivas, portanto, onde ele era qadi, não foi capaz de mudar a prática. Tais questões de se portar na sociedade islâmica são sustentadas por um hadith que afirma que quem visse um erro e pudesse mudá-lo com a mão, deveria fazer. Caso não pudesse, deveria fazê-lo com a língua, se isso também não fosse possível, então com o coração. [AN-NAWAWI, 1999, p. 70] A partir disso, como aponta David Waines [2010, p. 178], é possível ver que nem sempre Ibn Battuta tem a mesma reação perante a atitudes que ele considera errada. Em alguns locais, como as Maldivas, ele poderia agir com a “mão”, mas isso não era garantia de êxito ao eliminar o que o príncipe dos viajantes julgava como errado.

 

Casamento e sexo

O gênero rihla, proveniente do Maghreb e da al-Andaluz, tipicamente, não inclui informações sobre a vida privada dos autores. Narrativas de sexualidade ou sobre o casamento não são tão comuns. Portanto, quanto a Ibn Battuta, mesmo que não vastos, esses dados estão mais presentes. Rachel Singer [2019], a partir disso, aponta que tal fator está relacionado a uma construção de uma imagem pessoal favorável mediante ao contexto islâmico. O estilo de vida em movimento não o impediu de consumar vários casamentos ao longo da sua jornada. Ao todo, são dez esposas mencionadas, com a probabilidade de haver mais. Porém, ele raramente, ou nunca, levava uma mais longe do local em que foi firmada a união. [WAINES, 2010, P. 159]. Quase metade desses matrimônios foram feitos nas Maldivas, ou seja, um local privilegiado para estudar tal assunto.

 

Outro ponto importante da construção das Maldivas na rihla é a representação do local como extremamente favorável às relações sexuais. A própria alimentação dali, com base na pesca e no coco, é tida como proporcionadora de um vigor sexual pelo viajante. O relato de Ibn Battuta sobre a facilidade de casar-se enfatiza a ideia direta das Maldivas como um espaço auspicioso para o sexo:

 

“Casar-se nessas ilhas é fácil, pela escassez do acidaque [dote] e pela agradável relação carnal com as mulheres daqui. [...] Quando os navios atracam, os seus tripulantes se casam com as maldívias e, na hora de partir, se divorciam, já que elas nunca saem do seu país; ou seja, é uma espécie de casamento por prazer.” [IBN BATTUTA, 2017, P. 853, tradução minha]

 

Ademais, Ibn Battuta adiciona uma descrição das mulheres dessas ilhas como extremamente agradáveis de conviver, arrumando a mesa, trazendo água para as abluções e cobrindo os pés do marido. Isso perpetua a concepção de que o estrangeiro terá seus prazeres atendidos ao se relacionar com elas. É uma narrativa que poderia despertar as fantasias sexuais dos leitores e ouvintes homens maghrebinos, além de apostar na efemeridade do casamento e na descartabilidade dessas mulheres.

 

Falar de poder feminino, porém, é uma questão complexa nesses locais, uma vez que Ibn Battuta se defronta com uma mulher que rejeita o casamento mesmo com a cerimônia montada e não é repudiada nem pelo viajante e pelos presentes. Além disso, a figura de liderança da ilha é uma mulher. O tarikh das Maldivas confirma sobre essa figura feminina conhecida como Khadija ao organizar a lista dos governantes das ilhas e aponta que ela teve três reinados. Portanto, há uma discrepância na cronologia, já que a crônica coloca o governo dela como iniciado em 1347; ou seja, seria impossível Ibn Battuta estar sob o poder dela, já que ele sai dali em 1344. Porém, há uma proximidade e não se deve levar à risca as datas do tarikh, já que essas diferenças são comuns ao compará-lo com uma fonte independente. [PEACOCK, 2020, p. 198]

 

Outro detalhe importante, que se relaciona com o tópico anteriormente abordado, é que o Islã, além do comércio, poderia encontrar também uma boa rede de difusão a partir dos casamentos nas Maldivas. Além de receberem investimentos consideráveis, os estrangeiros, a partir do relato de Ibn Battuta, não pareciam encontrar empecilhos de unir-se em matrimônio e, consequentemente, difundir os dogmas da religião no âmbito familiar.

 

Mediante a facilidade dos casamentos, Ibn Battuta consuma quatro, o máximo permitido pela lei, e afirma, todos os dias durante a sua estadia, passar a noite com todas as esposas quando fosse a vez, além das concubinas. Por mais que possa parecer um indicativo das proezas sexuais pessoais, essa narrativa se coaduna com ortodoxia islâmica, na qual enfatiza o tratamento igual dessas esposas. [WAINES, 2010, p. 161]. Mesmo que as Maldivas sejam tidas como um local em que um estrangeiro terá suas demandas sexuais atendidas, elas são realizadas a partir dos dogmas e das prescrições islâmicas.

 

Ibn Battuta tinha uma compreensão econômica do casamento, a utilizando também para se promover e ele não sugere que considera o matrimônio sagrado ou eterno. [SINGER, 2019, p. 7] A própria efemeridade dessa instituição construída esteve presente individualmente para o viajante. Após envolver-se em um conflito com os poderes da ilha, ele renuncia ao cargo de juiz e parte das ilhas. De imediato ele teve uma que o acompanhou, mas ela sentiu-se mal e desejou voltar para as ilhas, o que foi seguido pelo divórcio. Outra esposa estava grávida e foi feito um acordo: Ibn Battuta voltaria em um período de nove meses, mas ele também se divorciaria antes de deixar as ilhas.

 

Esse relato também pode ser relacionado com a imagem que Ibn Battuta pinta de si: a de um cavalheiro piedoso e virtuoso. Para o seu público, o divórcio naquelas condições  retrata o viajante como um homem altruísta e piedoso por livrar as mulheres de uma jornada perigosa o que seria contra a vontade delas. [SINGER, 2019, p. 5] [KRUK, 1995, P. 376]

 

Conclusão

O relato de Ibn Battuta é rico em vários pontos e permite uma análise das Maldivas localizadas nas complexas redes que envolvem a região. Imerso a eles, há o Islã que se faz presente no cotidiano, mesmo que apresente algumas práticas que incomodam o viajante. Também as Maldivas se tornam um local privilegiado para o estudo de questões de matrimônio e de gênero. Mediante isso, é importante também notar as subjetividades do autor, que representa tanto a si quanto às ilhas de uma maneira que satisfaça uma série de expectativas.

 

Referências

Pietro Enrico Menegatti de Chiara é graduando em História pela Universidade Federal do Espírito Santo [UFES]. Atualmente é bolsista pela CNPq e desenvolve pesquisa de iniciação científica orientada pelo Prof. Dr. Sérgio Alberto Feldman sobre alteridade no Dar al-islam e Dar al-harb na rihla de Ibn Battuta.

 

AL-BAKRI. Kitāb al-masālik wa-’ l-mamālik. In. LEVTZION, Nehemia; HOPKINS, J.F.P.  [ed.]. Corpus of Early Arabic Sources for West African History. Princeton: Markus Wiener Publishers, 2000.

AL-UMARI. Masālik al-abār fī mamālik al-amār. In. LEVTZION, Nehemia; HOPKINS, J.F.P.  [ed.]. Corpus of Early Arabic Sources for West African History. Princeton: Markus Wiener Publishers, 2011.

AN-NAWAWI, Yahya bin Sharaf. The Forty Hadith of al-Imam an-Nawawi. Jeddah: Abul-Qasim Publishing House, 1999.

CANDOTTI, Marisa. La diffusione dei cauri nel Sudan Occidentale tra L'undicesimo e il sedicesimo secolo. Rivista trimestrale di studi e documentazione dell’Istituto italiano per l’Africa e l’Oriente, Roma, ano 46, n. 3, p. 321-334, set. 1991.

FANJUL, Serafín; ARBÓS, Federico. “Introducción” In. IBN BATTUTA. A través del Islam. [trad., Introd. e notas: Serafín Fanjul; Frederico Arbós]. [S.l.]: Titivillus, 2017.

FORBES, Andrew. A Roman Republican Denarius of c. 90 B.C., from the Maldive Islands, Indian Ocean. Archipel, v. 28, pp. 53-60. 1984.

GEERTZ, Clifford. Observando o Islã. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

HASAN TAJ AL-DIN.  asan Tāj al-Dīn’s The Islamic History of the Maldive Islands with Supplementary Chapters by Muammad Muibb al-Dīn and Ibrāhīm Sirāj al-Dīn. [Ed.:Hikoichi Yajima]. Institute for the Study of Languages and Cultures of Asia and Africa, Tóquio, n. 22. 1984

IBN BATTUTA. A través del Islam.  [trad., Introd. e notas: Serafín Fanjul; Frederico Arbós]. [S.l.]: Titivillus, 2017.

MOHAMED, Naseema. Note on the Early History of the Maldives. Archipel, Paris, v. 70, pp. 7-14. 2005.

PEACOCK, Andrew. History, piety and factional politics in the Arabic chronicle of the Maldives: asan Tāj al-Dīn’s Ta’rīkh and its continuations. Asiatische Studien - Études Asiatiques, v. 74, n. 1, p. 195-220. 2020.

REMKE, Kruk. Ibn Battuta: travel, family life, and chronology. Al-Qantara, Madrid, 16 [2], p. 369-384. 1995.

SINGER, Rachel. Love, Sex, and Marriage in Ibn Battuta’s Travels. JMU Scholarly Commons. Disponível em: <https://commons.lib.jmu.edu/madrush/2019/love/1/?utm_source=commons.lib.jmu.edu%2Fmadrush%2F2019%2Flove%2F1&utm_medium=PDF&utm_campaign=PDFCoverPages>. Acesso em: 10 Set. 2021.

SMITH, Stephanie Honchell. Sufis, Sea Monsters, and Miraculous Circumcisions: Conversion Narratives and Popular Memories of Islamization in Asia.  World History Connected, Honolulu, v. 16, Issue 3. 2019.

WAINES, David. The odyssey of Ibn Battuta. Londres: I.B. Tauris, 2010.

3 comentários:

  1. Olá Pietro! Bom dia. Obrigado pelo texto tão interessante. Gostaria de saber se, e como, você encontrou algo de Ibn Battuta com relação ao "geográfico imaginado" (como, p.ex., Ibn Fadlan e seus relatos sobre o fim da Terra e os povos de Gog e Magog). Muito obrigado! Um abraço, Vicene

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  2. Boa noite, Vicente, muito obrigado pela pergunta, muito boa por sinal. De fato esses espaços imaginados estavam presentes nesses relatos e em Ibn Battuta não é diferente. Pensar neles é interessantíssimo para se aprofundar no campo das possibilidades daquela época e na produção do maravilhoso.

    Por mais que o relato de Ibn Battuta tenha a palavra aja’ib (traduzida como maravilhoso) em seu título, A riḥla como um gênero, de acordo com Thiago Damasceno, não é, essencialmente, um relato de maravilhas, já que tais atos não são o núcleo narrativo delas. Portanto, essas obras estão repletas de relatos. Na narrativa de Ibn Battuta, é mais comum a interação com fatos maravilhosos ao invés de locais. Isso não significa que eles não existiam na rihla. Perto das Maldivas, por exemplo, ele cita uma ilha cujas mulheres teriam apenas um seio e, mais adiante, aponta a existência das muralhas e dos povos de Gog e Magog que estariam 60 dias de marcha do local que ele esteve na China. Porém não vai adiante com a descrição por apontar não conhecer ninguém que foi até lá. O interessante é que as tais muralhas, como apontado pelos tradutores em espanhol da rihla (Fanjul e Arbós), seria na verdade a Grande Muralha da China.

    Ao falar da China, esse extremo do mundo na época foi um local privilegiado para pensar nesses espaços maravilhosos em Ibn Battuta. Quando chegou mais próximo dali, foi possível ver uma construção de uma antinaturalidade desse universo tão distante do Maghreb, como aponta David Waines. Há dois momentos que marcam isso.

    Um deles é um lugar denominado Tawalisi, alvo de confusões entre os estudiosos no sentido dele ser real ou fictício. Pela lógica do itinerário, seria em algum lugar do sudoeste asiático, mas nenhum especialista conseguiu identificar onde exatamente seria. Esse lugar teria mulheres que montavam a cavalo lideradas por uma princesa de língua turca, também governante de Tawalisi. Essa mulher afirmava que só se casaria com um homem que lutasse contra ela e a derrotasse. Há uma construção de uma inversão à ordem social que marca tal antinaturalidade.

    O outro é o encontro, no caminho da China, com a grande ave rukh, confundida por montanha. Tudo isso também anunciava um universo completamente diferente do Maghreb, tanto na natureza, na fauna, nas expectativas, na ordem social. Era um mundo distante e que a linha entre o real e o imaginado alcançava certa tenuidade, afinal, foi o local mais distante que o “príncipe dos viajantes alcançou” David Waines interpreta esses dois contos como faróis de advertência para qualquer um que ousasse se aventurar além dessas terras.

    Mais uma vez, obrigado pela pergunta.
    Abraços!

    Referência extra não incluída no texto:
    DAMASCENO, Thiago P. M. A peregrinação a Meca em tempos de Cruzadas: o testemunho de Ibn Jubayr (século XII). 2018. 187 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2018.

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