UM OLHAR SOBRE A ARQUEOLOGIA DA MESOPOTÂMIA
Neste breve artigo buscaremos refletir sobre o desenvolvimento da ciência arqueológica na região da Mesopotâmia, centrando nosso olhar nos momentos iniciais desse movimento de expansão das pesquisas na região e que correspondem ao século XIX e décadas iniciais do século XX. Ao mesmo tempo, procura-se inferir como o desenvolvimento da arqueologia se relaciona diretamente com as condições políticas, econômicas e sociais na qual ela esta inserida.
A Mesopotâmia é uma região que fica em torno dos rios Tigre e Eufrates. O significado desse clássico nome é “terra entre rios” (GWENDOLYN, 2003) e foi dado pelos antigos gregos. A região central corresponde ao atual Iraque e pensando em uma grande Mesopotâmia, podemos incluir regiões próximas e que hoje correspondem a diversos países: Palestina, Jordânia, Israel, Líbano, Kuwait e Chipre, além de algumas partes da Síria, do Irã e da Turquia (GWENDOLYN, 2003).
Nessa região tivemos o desenvolvimento
dos primeiros núcleos urbanos da humanidade. Uma região que na atualidade, em
função de suas riquezas naturais e posição estratégica, se encontra no centro
de debates e ações das potencias centrais do mundo. Apesar dessa importância
geopolítica e grande visibilidade midiática, ainda assim são poucos os estudos
sobre a história, arqueologia e cultura da região no Brasil. Portanto, torna-se
cada vez mais necessário, estudos direcionados a essa região importante
historicamente e de grande visibilidade no Brasil.
A Mesopotâmia e a Ciência Arqueológica
A região da Mesopotâmia ao longo do
tempo conheceu inúmeras culturas e povos e também foi o palco de inúmeras
guerras e batalhas em torno da posse de seus recursos naturais e do controle de
sua posição geográfica estratégica (GIORDANI, 1969). Os povos que habitaram o
território correspondente à antiga região da Mesopotâmia, são conhecidos pelo
ocidente desde a antiguidade através de relatos gregos e romanos e dos relatos
bíblicos. A partir do período moderno, principalmente a partir da Reforma
Religiosa, houve um crescente interesse europeu pela região da antiga
Mesopotâmia. Assim, esse intercâmbio se intensificou no período moderno com
missionários, comerciantes, embaixadores e outros viajantes europeus que
percorreram a região. Temos assim, o aumento das referências à história e
cultura da região entre estudiosos e viajantes europeus:
“Nos séculos XVII
e XVIII, viajantes europeus descreveram as ruínas de Persépolis, a cidade
erguida pelo Rei Dario I (521 a.C.-486ª.C.), e copiaram as inscrições
cuneiformes que ali encontraram. Um erudito alemão, Georg Grotefrend
(1775-1852) conseguiu em 1802 decifrar parte dessa escrita persa antiga.”
(ROAF, 2006, p.152)
Apesar desses avanços nas descrições sobre essa região pelos europeus, até o século XVIII o conhecimento sobre a história dessa região era pouco aprofundado na Europa. Pois até o “[...] final do século XVIII, quase nada se conhecia das antigas civilizações do Egito e do Oriente Próximo, a não ser o que fora registrado na Bíblia, e pelos antigos gregos e romanos (ROSA, 2009, p.63). Na região do Oriente Próximo, diferente da Europa moderna, não ocorreu à formação de um antiquarismo nessa região em função da intolerância com o período pré-islâmico (TRIGGER, 2004). Assim, essa região, diferente das áreas romanas e gregas, não sofreu intensamente as atividades de escavação do antiquarismo moderno e as “[...] as cidades da Mesopotâmia continuavam a ocultar os seus segredos aos arqueólogos”. (ROAF, 2006, p.152)
Ao longo dos séculos XVIII e XIX, o
contato e a presença europeia se intensificaram como consequência do
imperialismo europeu. Neste ponto destacamos o papel da ciência arqueológica. A
fase inicial da arqueologia do Oriente Próximo coincidiu com a consolidação da
arqueologia na Europa. A ciência arqueológica foi se estruturando ao longo do
século XIX e se consolidando enquanto um campo de saber com seus objetos,
teorias e métodos próprios nas décadas de 1840 e 1850 (TRIGGER, 2004). Essa
consolidação se deu diante dos avanços das discussões sobre as mudanças
culturais humanas, através de trabalhos como os do dinamarquês Christian
Jurgensen Thomsen (1788-1865) e das pesquisas sobre a pré-história humana como as
de Jacques Boucher de Crèvecoeur de Perthes (1788-1868). Estruturava-se uma
ciência com o seu objeto de estudo as coisas materiais criadas pelos homens
(FUNARI, 2003). A arqueologia atuou em conjunto com esse movimento de expansão
imperialista,
“Os Impérios
modernos europeus, em geral, tentaram se apropriar das “glórias” dos Impérios
do passado, apoderando-se de seus símbolos. Como já foi dito, Grécia e Roma
foram escolhidos como o modelo de civilização, mas o Oriente Próximo também foi
foco do interesse europeu.” (RODRIGUES, 2011, p.12)
E assim, segundo o
pesquisador Edward Said
temos a definição de:
“[...] um modo de
abordar o Oriente que tem como fundamento o lugar especial do Oriente na
experiência ocidental europeia. O Oriente não é apenas adjacente à Europa; é
também o lugar das maiores, mais ricas e mais antigas colônias europeias, a
fonte de suas civilizações e línguas, seu rival cultural e uma de suas imagens
mais profundas e mais recorrentes do Outro. Além disso, o Oriente ajudou a
definir a Europa (ou o Ocidente) com sua imagem, ideia, personalidade,
experiência contrastantes. Mas nada nesse Oriente é meramente imaginativo. O
Oriente é uma parte integrante da civilização e da cultura material europeia. O
orientalismo expressa e representa essa parte em termos culturais e mesmo
ideológicos, num modo de discurso baseado em instituições, vocabulário,
erudição, imagens, doutrinas, burocracias e estilos coloniais.” (SAID, 2007,
p.27)
Nesse sentido,
“Claudius James Rich (1787-1820), representante da Companhia Britânica das
índias Orientais em Bagdá, foi o primeiro a fazer um estudo pormenorizado da
povoação da Babilônia, que se publicou em 1840.” (ROAF, 2006, p.152). Inserido
nesse movimento,
“Coube ao francês,
Emílio Botta, agente consular de seu país em Mossul, iniciar, em dezembro de
1842, as primeiras escavações sistemáticas. Com pouca sorte, a princípio,
conseguiu, em março de 1843, encontrar, em khoesabad, a poucos quilômetros de
Mossul, o antigo palácio de Sargão II, espécie de Versalhes assíria. Em 1847
chegavam a Paris, causando sensação no mundo inteiro, os primeiros relevos
assírios resultados dos trabalhos de Botta, os achados arqueológicos foram
enriquecer o Museu doLouvre.” (GIORDANI, 1969, p.122).
Ao mesmo tempo,
esses estudos se alimentavam também dos interesses de se buscar dados e
informações de eventos e fatos narrados pela Bíblia:
“A redescoberta da Antigüidade clássica
foi vista como fonte de informação sobre o passado glorioso da Itália, que
recebera pouca atenção nos relatos bíblicos tradicionais, ao passo que o estudo
do Egito e da Mesopotâmia, no século XIX, foi, em grande medida, motivado pelo
desejo de se saber mais a respeito de civilizações que tiveram presença
destacada no Velho Testamento da Bíblia.” (TRIGGER, 2004, p.44)
Temos assim que de
forma paralela ao avanço dos interesses europeus na região ao longo do século
XIX, inúmeros arqueólogos e diversos pesquisadores começaram a se debruçar
sobre os diversos sítios arqueológicos e construções antigas espalhadas por
toda a região do Oriente Médio e do território da antiga Mesopotâmia.
“Enquanto o Egito
e a Mesopotâmia produziam descobertas arqueológicas espetaculares, que por si
só provocavam grande interesse público, as descobertas relacionadas com a
Bíblia, que pareciam confirmar os relatos das escrituras, garantiam um vasto
apoio à pesquisa arqueológica realizada nesses países, assim como na
Palestina.” (TRIGGER, 2004, p.100)
Como resultado, ao
longo do século XIX diversas instituições e museus da Europa intensificaram a
publicação de estudos relacionados a cultura material da região mesopotâmica e
que levou a formação de grandes coleções de artefatos antigos, como resultado
do trabalho de inúmeros arqueólogos e estudiosos que buscaram recuperar e
estudar esses elementos da cultura material como vasos, porcelanas, etc.:
“A arqueologia também foi apresentada ao
Oriente Próximo pelos europeus que criaram instituições de pesquisa e ensino em
regimes coloniais (se não de direito, de fato). Em particular, eruditos ocidentais
sentiram-se atraídos para o Egito, Iraque e Palestina pelos vestígios
remanescentes de antigas civilizações que tinham especial interesse para os
europeus por serem mencionadas na Bíblia. Por outro lado, as atitudes locais
com relação à arqueologia eram prejudicadas por uma visão negativa dos tempos
pré-islâmicos, tidos como uma era de ignorância religiosa.” (TRIGGER, 2004,
p.177)
Assim diversos
arqueólogos estrangeiros passaram a se dedicar a história e arqueologia do
Oriente Próximo e proporcionaram novas descobertas e ampliaram o conhecimento
sobre a pré-história e história antiga da Mesopotâmia. Na metade do século XIX,
a Guerra da Criméia (1853-1856) fez com que os trabalhos arqueológicos
perdessem espaço e muitos foram interrompidos na região do Oriente Médio. Mas,
na década de 1870, os trabalhos desenvolvidos pelo estudioso George Smith em
torno da coleção de textos de Nínive, trouxe novamente o interesse arqueológico
pela na Europa:
“Ainda mais
ligações havia entre os arqueólogos do Oriente Próximo e os que buscavam
comprovar a verdade bíblica. O interesse pela arqueologia da Mesopotâmia
ressurgiu em 1870, depois que George Smith publicou o texto de uma tabuleta de
argila encontrada em Nínive, que continha um relato babilônio do
dilúvio.”(TRIGGER, 2004, p.100)
As primeiras décadas do século xx
Nas primeiras
décadas do século XX esses estudiosos e arqueólogos estrangeiros ajudaram a
estruturar do ponto de vista teórico, metodológico e institucional a arqueologia
na região:
“Na virada do
século 20, Koldewey, que mais tarde trabalhou em Borsippa e Churupaque (Fara),
e seus sucessores, incluindo Walter Andrae, que escavaram Ashur, trouxeram uma
abordagem científica à arqueologia na Mesopotâmia e ganharam uma reputação de
atenção meticulosa à estratigrafia e à arquitetura que se tornou sinônimo da
arqueologia alemã.
Depois de um hiato no qual as escavações pararam durante a Primeira Guerra
Mundial, os arqueólogos europeus e norte-americanos retornaram ao Iraque e começaram
a adotar os métodos sistemáticos que caracterizaram a arqueologia alemã na
virada do século. A técnica de procurar tábuas e artefatos atraentes para
exibição em museus foi substituída por uma que visava compreender o
desenvolvimento de um sitío ao longo do tempo e o contexto no qual a cultura
material era produzida.”(CDLI, 2008, n.p.)
Neste sentido, a
arqueologia do Oriente Médio foi fortemente influenciada pelo modelo
Histórico-Cultural em expansão na Europa e trazida por arqueólogos e pesquisadores
estrangeiros que vieram pesquisar e realizar escavações no território da
Mesopotâmia no final do século XIX e início do século XX. A arqueologia
histórico-cultural influenciou a arqueologia de várias regiões do mundo e:
“O modelo
teórico - metodológico que embasava a arqueologia era o histórico-cultural e
que entendia que cada nação seria composta de um povo (grupo étnico, definido
biologicamente), um território delimitado e uma cultura (entendida como língua
e tradições sociais)”. (FUNARI, 2013, p.48)
Na região da Mesopotâmia,
“O arqueólogo que
melhor exemplifica os novos padrões que estavam se tornando comuns na década de
1920 foi Leonard Woolley. Assim como Layard havia despertado interesse público
nas antiguidades da Mesopotâmia no século 19, a escavação de Woolley em Ur
chamou novamente a atenção do público para o antigo Iraque. Entre 1922 e 1934,
Woolley escavou as camadas do Período Babilônico Antigo, de Ur III, do
Dinástico inicial e Pré-histórico. Suas descobertas mais sensacionais vieram do
riquíssimo Cemitério Real, e do “Grande Poço da Morte”. .”(CDLI, 2008, n.p.)
Assim, esse modelo
teórico e metodológico adotado pelos arqueólogos se expandiu com as pesquisas
históricas que foram sendo desenvolvidas no Iraque e regiões próximas e ajudou
a alimentar o nacionalismo na região:
“O último xá do Irã procurou dar ênfase
às glórias pré-islâmicas de seu país e, em particular, tentou identificar seu
regime com a antiga monarquia persa. Isso incluiu uma magnífica celebração do
2.500° aniversário dos reis persas nas ruínas de seu palácio, em Persépolis, em
1971. Em face de crescentes dificuldades com estados vizinhos islâmicos e, em
alguns casos, também com árabes, o governo do Iraque prestou cada vez maior
atenção ao legado babilônico como característica distintiva de seu patrimônio
cultural.” (TRIGGER, 2004, p.177-178)
Nesse ponto, entendemos que na região
correspondente a antiga Mesopotâmia, a arqueologia desempenhou também um papel
político ao incentivar e a de promover a identidade e unidade nacional
(TRIGGER, 2004). Ressaltamos que o patrimônio arqueológico é entendido como um
bem material concreto e assim um objeto de valor não apenas material, mas
principalmente simbólico para o grupo social na qual está inserido, caso não
seja, o material é descartado como lixo. Ao realizar o seu trabalho, o
arqueólogo assume a responsabilidade de produzir conhecimento sobre os
vestígios materiais ou artefatos escavados e que a partir daí assumem um papel
importante na formação identitária e memorial dos grupos ou indivíduos
envolvidos, pois como salienta Pedro Paulo Funari:
“A criação e a valorização de uma identidade
nacional ou cultural relacionam-se, muitas das vezes com a arqueologia. Nesse
caso, predominam com frequência os interesses dos grupos dominantes mediados
pela ação do Estado”. (FUNARI, 2003, p.101)
Dentro desta
perspectiva, ressaltamos assim, que arqueologia (objeto, teoria e metodologia)
enquanto ciência está submetida ao contexto social na qual ela está inserida,
pois:
“Qual a relação
entre a arqueologia, em geral percebida como uma ciência neutra, e a política,
ou seja, a esfera das relações de poder? A arqueologia é sempre política,
responde a necessidades político-ideológicas dos grupos em conflito nas
sociedades contemporâneas”. (FUNARI, 2003, p.100)
Neste sentido,
também o arqueólogo Bruce Trigger ressalta a relação entre a ciência
arqueológica e o sistema político e social na qual ela está inserida:
“Arqueólogos acreditam que, porquanto
os achados de suas disciplinas são consciente e inconscientemente, vistos como
tendo implicações quer para o presente, quer para a natureza em geral, as
condições sociais variáveis influenciam não apenas as questões abordadas como
também as respostas que os arqueólogos se predispõem a considerar aceitáveis”.
(TRIGGER, 2004, p.12).
Portanto, não devemos pensar a ação dos arqueólogos de forma autônoma. Eles estão inseridos dentro de redes de sociabilidade e de uma estrutura que em suas mais diversas instâncias estavam ligadas ao poder dominante da época. Produzindo um discurso cientifico e que lhes davam uma legitimidade perante a sociedade, respaldando assim, muitas das vezes a visão de mundo da classe dominante (FUNARI, 2003).
No período pós Segunda Guerra Mundial, tivemos o aparecimento de novos atores no cenário
internacional e o interesse geopolítico pela região se renovou a partir de
outras perspectivas. Esse período da história arqueológica na região também foi
marcado de profundas mudanças e não é alvo de discussão nesse breve artigo. De
qualquer forma, foi um período marcado por “[...] uma crescente ênfase na
arqueologia islâmica, à medida em que a pesquisa passa a ser controlada e
desenvolvida por eruditos locais (Masry, 1981).” (TRIGGER, 2004, p. 178)
Considerações Finais
Ao longo deste breve trabalho
procuramos realizar um pequeno levantamento e algumas considerações acerca de
alguns pontos importantes sobre o desenvolvimento da ciência arqueológica na
região correspondente a antiga Mesopotâmia. Uma arqueologia que surgiu e se
desenvolveu em um contexto marcado pelo imperialismo e que no século XX também
ajudou a alimentar os movimentos
nacionalistas e religiosos da região, destacando a forma como a arqueologia se
relaciona diretamente com as condições políticas e sociais na qual ela esta
inserida na Mesopotâmia. Por fim, procuramos com este breve trabalho, de alguma
forma divulgar a história e a arqueologia do Oriente e da antiga Mesopotâmia no
Brasil.
Referências
Marlon Barcelos Ferreira é especialista
em arqueologia (IAB-UNIREDENTOR), Mestre em História Social pela PPGHS/UERJ e
aluno de Doutorado do PPGHS/FFP/UERJ - Email: marlonbf@hotmail.com
FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. São Paulo:
Contexto, 2003.
GWENDOLYN, Leick. Mesopotâmia: a invenção da
cidade. Rio de Janeiro: IMAGO, 2003..
GIORDANI, Mario Curtis. História da
Antiguidade Oriental. Petrópolis: Editora Vozes, 1969.
ROAF, Michael. Mesopotâmia. Barcelona: Folio, 2006
CDLI. Uma breve história
da arqueologia na Mesopotâmia, 2008. Disponível em:. <
https://cdli.ox.ac.uk/wiki/doku.php?id=a_brief_history_of_archaeology_in_mesopotamia>.
Prezado Marlon, parabéns pelo seu texto! Pelas suas leituras sobre o assunto, foi possível estimar o impacto negativo das escavações europeias realizadas no séc. XIX e início do XX, uma vez que o objetivo principal era a coleta de materiais valiosos para os museus europeus, descartando os que não fossem assim considerados? Desde já, muito obrigado!
ResponderExcluirBoa noite. Obrigado pelas palavras. Bem, a ciência arqueológica passou por muitas mudanças do ponto de vista teórico e metodológico, com certeza muitas coisas que naquela época eram vistas como sem utilidade ou valor, hoje seriam também objetos de estudo pelos arqueólogos. Com certeza nessas escavações se perdeu muita coisa e muita coisa foi jogada fora. Infelizmente muito material arqueológico importante se perdeu. Grato, Marlon B. Ferreira
ExcluirPrezado Sr. Marlon Barcelos Ferreira, congratulações pela Comunicação. Gostaria de compartilhar um questionamento que a leitura da mesma me suscitou:
ResponderExcluirA partir das definições, no campo da Arqueologia Bíblica, do que seja uma postura minimalista (na qual a Bíblia não é tomada como ponto de chegada, nem como régua de medida suficiente dos achados arqueológicos), e uma postura maximalista (segundo a qual os achados arqueológicos são condicionados ao texto bíblico enquanto índice irrefutável de verdade histórica), Va. Sra. vê, à luz do que registrou na Comunicação [“O modelo teórico - metodológico que embasava a arqueologia era o histórico-cultural e que entendia que cada nação seria composta de um povo (grupo étnico, definido biologicamente), um território delimitado e uma cultura (entendida como língua e tradições sociais)”] acerca da relação entre sítio arqueológico e cultura histórica local, algo deste tipo no âmbito de pesquisas arqueológicas da Mesopotâmia no que tange a obras como “Enuma Elish” e “Epopéia de Gilgamesh”? Há alguma tendência metodológica neste sentido (minimalista, maximalista) no caso mesopotâmico?
Desde já agradeço pela atenção...
Boa tarde. Obrigado pelas palavras. As escavações na Mesopotâmia ganharam força e atraíram a atenção das pessoas em busca de evidências da Bíblia ao longo dos século XVIII e XIX. A partir do momento que a arqueologia foi se estruturando do ponto de vista teórico, essa visão religiosa foi perdendo espaço e isso não é mais preocupação dos arqueólogos atualmente. Agora, hoje existem arqueólogos, geralmente ligados a alguma denominação, que buscam evidencias bíblicas no Oriente. E o modelo histórico-cultural entendia que determinado achado pertenceria a determinado povo que habitou a região. Grato, Marlon Barcelos Ferreira
ExcluirPrezado Sr. Marlon Barcelos Ferreira, agradeço desde já pela resposta. Compreendo a situação, principalmente pelas últimas palavras de tua resposta. Novamente gostaria de congratular-te pela Comunicação. Até a próxima... ;)
ExcluirFelicito o autor Marlon Barcelos Ferreira, pelo artigo cujo titulo é “um olhar sobre a arqueologia da mesopotâmia”, que explica que a Mesopotâmia é uma região que fica em torno dos rios Tigre e Eufrates. O significado desse clássico nome é “terra entre rios” (GWENDOLYN, 2003) e foi dado pelos antigos gregos. A região central corresponde ao atual Iraque e pensando em uma grande Mesopotâmia, podemos incluir regiões próximas e que hoje correspondem a diversos países: Palestina, Jordânia, Israel, Líbano, Kuwait e Chipre, além de algumas partes da Síria, do Irã e da Turquia (GWENDOLYN, 2003). Assina Francielcio Silva da Costa.
ResponderExcluirO que a Arqueologia na Mesopotâmia pode nos revelar acerca da História deste território?
Quais os principais arqueólogos que já estudaram a região da Mesopotâmia ?
Boa tarde. Obrigado pelas palavras. Bem a arqueologia da região nos traz muitas informações sobre a economia, sociedade e outros aspectos da história regional. Principalmente dos períodos mais antigos. Ao longo do tempo vários arqueólogos trabalharam na região como Leonard Woolle, André Parrot, Henri Frankfort. etc. Marlon Barcelos Ferreira
ExcluirParabéns pelo texto.
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirO autor afirma que "Nessa região [Mesopotâmia] tivemos o desenvolvimento dos primeiros núcleos urbanos da humanidade". Quero saber como enxergas a questão da visão contemporânea quanto à origem humana sendo a partir do continente africano, enquanto algumas visões do mundo antigo que sustentam que isso ocorreu na região mesopotâmica. Como tem sido o debate de tal questão atualmente?
Além disso, poderias, por favor, me dar algum exemplo de como algo da história mesopotâmica antiga é utilizado atualmente para dar legitimidade ou reforçar algo nos dias atuais, como ocorre com muitos aspectos do mundo medieval, de onde referências são tomadas para reforçar uma mensagem atualmente (exemplo: Trump e Bolsonaro como cavaleiros templários/cruzados)?
Obrigado,
Att. Luís Fernando de Souza Alves
Boa tarde. Obrigado pelas palavras. Bem, com relação a primeira pergunta, a discussão sobre a origem do homem é dominada pela origem africana, agora, os primeiros núcleos urbanos e a invenção da escrita existe um debate sobre o Egito, Mesopotâmia, China. etc. Com relação aos usos do passado, o ênfase é na arqueologia islâmica, mas esses Estados podem de acordo com seus interesses usar esse passado para se legitimar enquanto um Estado. Como na década de 1970 fez o Irã. Grato Marlon Barcelos Ferreira
ExcluirOk.
ExcluirGrato.
Texto muito interessante Marlon. Sabemos que o imperialismo europeu foi fator importante para o desenvolvimento da arqueologia no oriente próximo, e que esse imperialismo condicionou as interpretações dos achados arqueológicos. Como era a relação entre os sistemas arqueológicos e o governo iraquiano antes da primeira Guerra do Iraque e, pressupondo que ao termino dessa guerra as relações que existiam foram cortadas, e se após o início do segundo conflito, em 2003, houve a retomada dessas relações? Ou seja, como se desenvolveu as relações entre os “sistemas arqueológicos ocidentais” e os governos e sociedades iraquianas nas últimas décadas, tendo em vistas o imperialismo sofrido pela região nos últimos dois séculos?
ResponderExcluirAlexandre Black de Albuquerque
Bom dia. Obrigado pelas Palavras. Bem, a arqueologia na na época de Saddam Hussein tinha um papel ideológico, quando o regime caiu a academia ganhou algum tipo de "liberdade" para o desenvolvimento de uma arqueologia e de uma história mais crítica. Mas também sabemos das limitações proporcionados pela instabilidade regional e financiamento. Grato
ExcluirOi,Marlon! Parabéns pelo rico texto! Me deleito sobre sua obra porque leciono História e, certas situações que parecem distantes, são partes de nós! Portanto, meu questionamento: diante de tantos conflitos,o que vem sendo feito para preservar o resto de acervo?
ResponderExcluirBom dia. Obrigado pelas palavras. Infelizmente as guerras na região foram um desastre para o patrimônio local. Existem missões do próprios exercito americano e da Unicef na tentativa de proteger os bens, mas sabemos que são limitadas e no geral ineficazes. Grato Marlon Barcelos Ferreira
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa tarde professor, parabéns pelo artigo, certamente essa leitura foi muito valiosa para compreender como se deu o surgimento da arqueologia em uma área tão importante. Dessa forma pergunto o seguinte:
ResponderExcluir1) Quais são as tendências das missões arqueológicas na Mesopotâmia (Iraque) hoje e para o futuro?
2) O senhor acha que há possibilidade de se fazer alguma descoberta que corrobore, por exemplo, os relatos antigos sobre os Jardins Suspensos da Babilônia (à exemplo de alguns arqueólogos que anunciaram recentemente a possível descoberta de partes do lendário Cavalo de Tróia na Turquia)?
3) Os arqueólogos de hoje, utilizando do método científico, ainda olham para mitos como esses buscando as evidências materiais ou há algum consenso entre eles sobre o seu caráter puramente mítico?
Muito obrigado pelas vindouras respostas.
Gabriel Dantas Martins
Bom dia. Obrigado pelas palavras. Respondendo as perguntas..1: Infelizmente a arqueologia hoje na região vive um momento de recuperação e resgate dos estragos das guerras. Ainda existe muita instabilidade na região 2: As possibilidades existem, em arqueologia não se pode fazer previsão. É sempre uma surpresa. 3: Os mitos sempre serão mitos e fontes de debates. Eles fazem parte da nossa cultura, mas os historiadores e arqueólogos não estão preocupados em provar a veracidade de um mito. Grato pelas perguntas. Marlon Barcelos Ferreiras
ExcluirPrezado Prof. Me. Marlon Barcelos Ferreira,
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de felicitá-lo pelo artigo, texto excelente!
Na parte inicial do texto você afirma que há um vasto campo a ser explorado por estudiosos brasileiros nos campos da historiografia, cultura e arqueologia da região abordada. Para você qual(is) o(s) motivo(s) de haver ainda poucos estudos, sobretudo, historiográficos em relação ao Oriente Médio no Brasil?
Desde já agradeço. Leonardo Teles de Matos Santos
Boa noite. Obrigado pelas palavras. Bem, realmente são poucos estudos. Lembrando que o que se ensina passa por relações de poder e interesses difusos. Nenhum currículo é isento. Mas, também temos dificuldades como a busca de fontes históricos, as dificuldades de idiomas, etc...Grato Marlon Barcelos Ferreira
ExcluirBoa noite,
ResponderExcluirO texto afirma que os impérios coloniais europeus buscaram se apropriar das "glórias" das civilizações do passado, incluindo-se aí as do Oriente Próximo. Houve alguma tentativa por parte dessas potências de mostrar que civilizações como a Babilônia e a Assíria eram na verdade "europeias"?
Grato, Vinícius Andrade de Araújo.
Boa noite. Existiram arqueólogos que buscaram fazer essas associações. A corrente antropolófica difusionista em suas origens com G. Elliot Smith e William J. Perry, buscou as origens no Egito e Oriente Próximo. Grato Marlon Barcelos Ferreira
Excluir