Junior Benedito Pleis e Talita Seniuk

 AVERRÓIS: DE AL-ANDALUZ PARA TODA A EUROPA MEDIEVAL


Este trabalho busca brevemente demonstrar a presença do árabe Averróis inicialmente na região da Espanha Islâmica que expandiu sua influência por toda a Europa Medieval, em especial na área filosófica. Estrutura-se em cinco breves tópicos, As fronteiras do saber, Europa Medieval, Al-Andaluz, Biografia de Averróis e Influência Ocidental respectivamente. Como referências bibliográficas utilizam-se as obras de Chauí [2000], Marcondes [2007] e Storck [2003] que se consolidam como essenciais no campo filosófico; Fontes [2019] e Leme [2019] que articulam os temas aqui relacionados entre Ocidente e Oriente e Silva e Silva [2009] que transitam com maestria entre conceitos históricos necessários ao entendimento do contexto. Por se tratar de um árabe em domínio cristão muitas fontes ainda estão em processo de tradução, pois a censura imposta pela Igreja Católica no Medievo impunha limites para o acesso ao conhecimento, em especial de um herege.

 

As fronteiras do saber

A trajetória humana em seus diferentes lugares e momentos se efetivou de diferentes formas e de modo simultâneo, como ainda ocorre. Apesar dos marcos temporais referenciarem a humanidade em relação ao período em questão, dotando-lhes de características específicas que limitam o enfoque para melhor explorá-lo, há nuances que podem ser percebidas com maior facilidade e outras que se escondem. No caso do conhecimento construído por um determinado povo ou cultura esses elementos podem ser evidenciados.

No que tange a Filosofia, por exemplo, foco dessa discussão, costuma-se creditar seu nascimento à Grécia Antiga, entretanto é sabido que ela se desenvolveu em diferentes continentes com maior ou menor intensidade. Na Antiguidade Ocidental ela apresentou as bases do que há muito se considera como referencial filosófico para então no Medievo passar por transformações entre as áreas de interesse e seus limites impostos pela religiosidade exercida na Europa.

Tratando-se da Idade Média, período de domínio cristão, a ciência passou pelo crivo da teologia, ora caminhando junto, ora em separado. Nesse momento, o mundo latino recebeu fortes influências árabes tanto nas questões culturais quanto na ciência. Entre os séculos IX e XII os árabes discutiram sobre a possibilidade da fundamentação racional da fé, o que agradou aos ocidentais que buscavam conferir a teologia o estatuto de ciência, servindo de inspiração e base para muitos trabalhos [STORCK, 2003].

Essa nova roupagem que o saber filosófico foi recebendo, permitiu que se observasse a Filosofia como grega em suas origens, passando a ser romana para posteriormente se tornar cristã [STORCK, 2003], onde recebeu contornos que se encaixavam aos dogmas religiosos, bem como aquilo que não cabia era descartado por confrontar com a Santa Sé:

 

“Os sírios transmitiram-na aos árabes e estes em boa medida aos judeus. Os cristãos novamente a recuperaram, assimilando teses árabes e judaicas, e buscando mais uma vez as fontes gregas. Os especialistas designam esse movimento de transmissão de translatio studiorum, isto é, o deslocamento dos saberes” [STORCK, 2003, p. 7].

 

Não obstante a Filosofia como outras áreas no Medievo foram construídas com elementos de diferentes origens que não contrastavam com os limites impostos a priori pelo Cristianismo na Europa. O que interessava era adaptado e por vezes poderia escamotear informações importantes, creditando visões distorcidas de algumas obras para que pudessem ser “toleradas” como ao considerar que filósofos eram verdadeiramente os pagãos como Aristóteles e Platão ou os infiéis árabes como Avicena e Averróis, e os cristãos que lhes estudavam eram teólogos [STORCK, 2003]. 

 

Europa Medieval

Antes dos europeus imaginarem que expandiriam suas posses além das fronteiras terrestres e marítimas que inaugurariam suas colônias em diferentes territórios, em 711 d.C. exércitos mouros do norte da África tomaram Córdova e Toledo, com a ajuda de judeus que ali já estavam instalados; iniciando uma invasão árabe no continente europeu [FONTES, 2019]. Vale lembrar que os cristãos reagiram ocasionando conflitos denominados de Reconquista, num local que era povoado por cristãos, cristãos convertidos ao islamismo e judeus [MARCONDES, 2007].

Na religião há o predomínio da Igreja Católica; na agricultura ocorreram inovações técnicas que permitiram uma maior oferta de alimentos que resultou num aumento populacional bastante elevado; houve uma abertura comercial consequente dos movimentos das Cruzadas que também permitiu trocas culturais elevadas; entretanto guerra e a pandemia de peste bubônica [LEME, 2019] marcam também esse período de avanços e retrocessos em todos os campos sociais. Carlos Magno inaugura um novo momento ao valorizar o letramento e permitir que se frequentassem os mosteiros em busca de instrução, claro que baseada num saber teológico e temos o nascimento da escolástica também.

A partir do século XIII, a Europa passa a ser o palco da introdução da Filosofia Oriental no Ocidente baseada no pensamento aristotélico e neoplatônico que estava em segundo plano até então pelos estudiosos europeus que passaram a reconhecer a importância dos ensinamentos de outros povos, sem, entretanto, deixar de lado o estranhamento em relação a essas culturas tidas como “diferentes” das europeias. O Oriente continuará durante muitos séculos a ter o estereótipo de lugar de hereges [SILVA; SILVA, 2009] e tudo que viesse deles precisava ser visto com cuidado e passar pelo filtro da sociedade.

 

Al-Andaluz

A região dominada pelos árabes na Península Ibérica recebeu o nome de Al-Andaluz e é considerada como a porta de entrada do pensamento árabe na Europa [FONTES, 2019] que extrapolou as fronteiras continentais para se efetivar como o lócus privilegiado de trocas comerciais e culturais singulares, nem sempre possíveis de mensurar e que durante muito tempo adoçou relações amistosas nessa relação entre o mundo islâmico e o cristão.

Havia regras que almejavam a boa convivência na Espanha Islâmica, pois povos de diferentes origens conviviam nesse espaço marcado pela tolerância em seus mais variados aspectos, tendo como máxima de que não atacassem ao Islã. Esse bom exemplo de coabitação contrastava totalmente com as práticas cristãs de perseguições e caça as bruxas desempenhadas no momento de maior choque dessas culturas, nas Cruzadas [SILVA; SILVA, 2009] que consolidou o estereótipo eurocêntrico de cristão e fiel contra o infiel personificado nos seguidores de outras religiões ou de outros costumes.

A presença árabe nessa região foi bastante positiva em diferentes segmentos sociais porque ao se fundamentarem no Islã, aproveitaram toda a bagagem helênica em oposição ao que ocorreu no Ocidente depois da desfragmentação do Império Romano que cerceou o acesso a bibliotecas e escolas, enfim a vida intelectual [STORCK, 2003]. Para os árabes Alá é perfeito e belo e dele só emana perfeição enquanto os ignorantes são imperfeitos ofendendo-lhe e para reverter esse estado de imperfeição ele só se concretizava através da educação [STORCK, 2003].

Devido aos preceitos religiosos, cada território conquistado era seguido da construção de uma mesquita; biblioteca, hospital e escola públicos e um observatório astronômico que ficavam a cargo do governante que contava com a ajuda da população local [STORCK, 2003]. O florescimento cultural e social até o século XIII se deu nos campos da Arte, Ciência e Filosofia. Havia oficinas de tradução onde trabalhavam juntos cristãos, árabes e judeus. Textos eram traduzidos do árabe para o hebraico e o latim e assim puderam entrar no restante da Europa.

Esse ambiente de tolerância religiosa estava fundamentado na separação conceitual árabe entre Filosofia [Falsafa] e religião [Kalan]. É importante lembrar que houve teóricos que tentaram unificar as duas vertentes numa só, mas a marca principal do período dessa cultura foi a dialética entre os falsifas e os mutakalimun, ou seja, entre filósofos e teólogos. Para eles: “fé e razão eram coisas que deveriam se encontrar, porém não deveriam se subjugar uma a outra [...]” [FONTES, 2019, p. 296] propiciando um terreno fértil para o exercício intelectual e florescimento cultural.

Como os árabes tiveram contato direto com as obras de filósofos gregos antigos como Aristóteles e Platão, diferente do que aconteceu com os teóricos europeus que lidaram com fragmentos durante muito tempo, essas obras fundaram sua Falsafa que almejava a separação das ciências em campos específicos. Falsafa não era sinônimo de Filosofia, mas uma transliteração do termo como um conhecimento prático e aplicado [FONTES, 2019].

Para Leme [2019] Al-Andaluz foi o maior centro cultural e artístico do Ocidente durante muitos séculos onde se percebe uma grandeza política e econômica que não poderia deixar de fora a Filosofia e que soube mediar a presença de pessoas de diferentes culturas com maestria, deslocando o eixo central da Falsafa de Bagdá para a Espanha.

 

Biografia de Averróis

Abu Alualide Maomé Ibne Amade Ibne Maomé Ibne Ruxide ou Ibn Ruchd ou ainda Averróis como ficou conhecido no Ocidente, diferente de outros companheiros de estudos nascidos no Oriente, viveu entre 1128 e 1198, nascendo em Córdova. Foi um polímata que andou por caminhos da Teologia, Filosofia, Física, Astronomia, Medicina; além de ser jurista e ativista político, atuação esta que lhe rende exílio em Marraquexe aonde veio a falecer [FONTES, 2019].

Para Chauí [2000] foi um importante teólogo medieval do lado árabe; tentou conciliar fé e razão, foi seguidor de Aristóteles e opositor ferrenho de Algazel que criticava a metafísica e o filósofo Avicena. Buscava resgatar a metafísica aristotélica [em oposição às ideias de abandono da mesma por Algazel], lançando um projeto filosófico dividido em duas partes que analisa uma das obras de seu inimigo teórico A Incoerência dos Filósofos que resultou em inúmeros comentários que lhe tornaram famoso.

O primeiro tratado demonstrava que as críticas de Algazel não poderiam ser aplicadas a Aristóteles e o segundo, que não tinha exatamente o nome de O Comentador, tratava-se de comentários de todas as obras aristotélicas traduzidas para o árabe e foram esses comentários que lhe valeram o apelido como ficou conhecido no Ocidente - O Comentador [STORCK, 2003].

Era forte defensor do aristotelismo com nuances platônicas, no campo religioso tinha uma interpretação do Corão bastante interessante, defendendo de que se houvesse alguma contradição ela deveria ser interpretada alegoricamente. Escreveu Sobre a harmonia entre Religião e Filosofia, Distinguido jurista, Substantia Orbis, Livro das Generalidades da Medicina, entre outros; bem como teceu comentários a Avicena, Galeno, Ptolomeu.

Devido sua atuação política e seus comentários polêmicos por vezes, foi durante muito tempo protegido por sultões até ser expulso da região. Todas as suas obras foram banidas e seus livros foram queimados em praça pública; entretanto devido sua influência, seus discípulos conseguiram contrabandear para o Egito cópias das mesmas e até hoje elas estão sendo traduzidas [FONTES, 2019].

 

Influência ocidental

A primeira nuance que não pode passar despercebida é que os sábios europeus não se ocupavam apenas de aprender o latim, mas o árabe para ter acesso ao conhecimento do Oriente [LEME, 2019]. Na Idade Média Averróis era conhecido como O Comentador sendo a autoridade máxima no que se referia aos aspectos filosóficos [FONTES, 2019]. Esse título fazia uma clara referência ao estilo adotado ao realizar comentários extensos nos textos de Aristóteles.

Entre os séculos XII e XIII o crescente interesse pelas obras aristotélicas e consequentemente suas traduções por árabes, passam a ser vistas em alguns lugares da Europa como problemáticas e potencialmente perigosas para a hegemonia da Igreja. Em 1277 o bispo de Paris condena formalmente o averroísmo, proibindo seu ensinamento da universidade local, decisão seguida pela de Oxford [MARCONDES, 2007].

Apesar das proibições, Tomás de Aquino vai mediar seus interesses com maestria e não deixa de se debruçar sob as obras dos “hereges” para desenvolver seu raciocínio. E para tanto vai escolher uma metodologia utilizada por Averróis. Enquanto Avicena foi conhecido pelo estilo da paráfrase, Averróis foi pela técnica do comentário [STORCK, 2003]. A influência de ambos, apesar de apenas o segundo ser o foco da discussão, é notória no Medievo europeu:

 

“Essa diferença aparece claramente na comparação entre as obras de um mestre, Alberto Magno, e seu discípulo, Tomás de Aquino. O primeiro continuará por toda sua vida ligado à filosofia de Avicena e praticando o método da paráfrase. O segundo abandonará gradativamente as ideias do pensador persa e falará de Aristóteles usando o método ensinado por Averróis” [STORCK, 2003, p. 19-20].

 

No que tange a influência sob Tomás de Aquino, pode-se percebê-la na preocupação em separar a Filosofia enquanto um conjunto de disciplinas científicas e a teologia em separados [STORCK, 2003], cada uma conforme seus limites; fato este que muitos europeus não defendiam por questões religiosas fruto do período em questão. O estudioso valeu-se de argumentos de vários pensadores não cristãos para fundamentar seus textos.

A posição tomada por Tomás de Aquino propunha essa separação, mas ao mesmo tempo uma fraca subordinação entre Teologia e Filosofia que vai inaugurar a partir do século XV um movimento de busca das obras tanto de Aristóteles quanto de Averróis que estavam deixadas de lado e que culminam num novo aristotelismo cristão [STORCK, 2003].

Posteriormente, outro teórico que fora influenciado pelo averroísmo foi Okcham que defendia a separação entre Filosofia e Teologia, ainda que essa posição fosse proibida perante a sociedade europeia. Para ele a Filosofia não conseguia demonstrar a verdade da fé e que a salvação eterna cabia apenas dentro da Teologia; postura esta que fará um paralelo entre o poder papal e do rei que inaugura a crise da escolástica [MARCONDES, 2007].

A civilização Ocidental fundou suas bases nos referenciais gregos e em outros vindos do Oriente, entretanto, devido ao panorama medieval de ruptura em relação a eles, influenciados pelo Cristianismo num processo de fechamento da sociedade e censura do conhecimento, a abertura que se deu em Al-Andaluz e suas consequências que extrapolaram seus limites territoriais precisam ser vistas como novos elementos introduzidos nesse mesmo continente.

 

Considerações

A região de Al-Andaluz se mostrou como um exemplo de vivência pacífica entre grupos étnicos de diferentes regiões com suas respectivas culturas durante muito tempo, principalmente no período de dominação árabe. Averróis, diferente de outros que nasceram no Oriente, tendo nascido na cidade desenvolveu seu trabalho influenciado pelo contexto em que viveu e assim como outros que geralmente eram vistos como hereges por não partilhar das mesmas concepções religiosas e culturais dos cristãos, conseguiu influenciar outros teóricos de diferentes regiões da Europa. A Filosofia Ocidental foi construída com diferentes referenciais em suas mais variadas origens, sendo manipulada para atender as imposições do período, em especial a censura da Igreja Católica, mas que produziu um conhecimento filosófico também que não se pode renegar e teve como um de seus principais representantes a figura de Averróis.

 

Referências

Junior Benedito Pleis é licenciado em Matemática pelo Centro Universitário de Maringá e em Física pela Universidade Metropolitana de Santos; pós-graduado em Metodologia do Ensino de Matemática, em Metodologia do Ensino da Física e Educação do Campo, Indígena e Quilombola pela Faculdade Eficaz de Maringá. Atualmente é Professor de Matemática efetivo na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso.

Talita Seniuk é licenciada em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo e em Filosofia pela Universidade Metropolitana de Santos; pós-graduada em Metodologia do Ensino de História e Geografia pelo Centro Universitário de Maringá e em Ensino de Sociologia pela Universidade Cândido Mendes. Coautora do livro As Ucrânias do Brasil: 130 anos de cultura e tradição ucraniana pela Editora Máquina de Escrever. Atualmente é Professora de História efetiva na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso, colunista do Jornal Ucraniano Pracia - Праця e colaboradora do Blog Exílio-migração política.

 

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. [Livro]

FONTES, Gustavo. O pensamento do extremo oriente: uma introdução filosófica. Curitiba: InterSaberes, 2019. [Livro eletrônico]

LEME, Elaine Cristina Senko. História e historiografia medieval oriental. Curitiba, InterSaberes, 2019. [Livro eletrônico]

MARCONDES, Danilo. Iniciação a História da Filosofia. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2007. [Livro]

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009. [Livro]

STORCK, Alfredo. Filosofia Medieval. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2003. [Livro]

9 comentários:

  1. Meus parabéns pelo texto, gostei das discussões levantadas. Aventurar-se profundamente no mundo da falsafa é uma tarefa muito interessante. Além disso, o próprio Ibn Rushd é um personagem intrigante e influente. Não é a toa que é o único filósofo medieval da pintura “Escola de Atenas” do Rafael Sanzio. Enfim, o texto ajuda a quebrar a ideia de que o Iluminismo não foi o primeiro movimento a pensar a separação entre religião e ciência. Vocês poderiam comentar mais sobre isso? Será que esse averroísmo pode ter influenciado tais discussões na Europa no século XVIII?

    Assinatura: Pietro Enrico Menegatti de Chiara

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    1. Olá, Pietro!
      Agradecemos seu interesse em nosso texto!
      Averróis, como todos do seu tempo, era um homem religioso. Mas este aspecto, que apesar de aparecer claramente em suas obras, também não lhe torna menos interessante. Ele conseguiu desvincular em alguns momentos a razão do dogmatismo, como se percebe nos trabalhos sobre filosofia natural, física e metafísica que foram o foco dos escolásticos latinos no século XIII. No campo da religião ele se preocupou nas interpretações indevidas do Corão e suas consequências heréticas, estabelecendo níveis para seu correto entendimento e nesse caso, colocou a filosofia em primeiro lugar, então a teologia e por último a religião, segundo Etienne Gilson. Essa postura demonstra já uma separação entre a ciência e a religião e que pode sim, ter contribuído com as futuras discussões que se estabeleceram nos séculos seguintes até chegarem ao movimento Iluminista que bebeu do conhecimento de diversas fontes.
      O cenário que permeava os iluministas era de busca por autores e referências desconhecidas e novas interpretações daquelas já consolidadas, então é bem possível que um dos produtos “moídos” intelectualmente por eles tenha sido pautado em Averróis e sua corrente, entretanto, difícil de mensurar quantitativamente até que ponto essa influência agiu.
      Agradecemos, Junior Benedito Pleis e Talita Seniuk.

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  2. Ótimo texto. A inter-relação entre as tradições culturais da Europa e Oriente Médio parecem ter moldado as duas civilizações, mesmo que de formas diferentes. Nos dias atuais há uma tentativa de relativizar a influência do Oriente Médio no Ocidente, parece ser também o caso do Oriente Médio em relação a influência Ocidental. Há diferença de percepção em relação a essas influências do mundo árabe entre a península Ibérica e o restante da Europa? Tendo em vista a dominação exercida pelos árabes em Portugal e Espanha durante parte da Idade Média?

    Alexandre Black de Albuquerque

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    1. Olá, Alexandre!
      Agradecemos seu interesse em nosso texto!
      Essa vertente de relativizar as influências “estrangeiras” dentro de algumas regiões, ou mesmo de estados nacionais, tem sido uma constante no planeta para diferentes povos. Ao invés de reconhecer o outro e sua contribuição dentro da cultura, escolhe-se desmerecer, desvalorizar ou mesmo aniquilar essa diferença, a exemplo, apenas a título de comparação o que os europeus fizeram com os povos originários das Américas (retratado na obra O encobrimento do outro de Enrique Dussel). É como se esse “outro” e sua cultura anulasse a daquele que se depara com ela.
      Imaginamos que a presença árabe na região Ibérica causou impactos culturais que podem ser sentidos até hoje, seja no uso de alguns vocábulos e algumas arquiteturas que resistem ao tempo e as guerras, além, claro, de outros inúmeros aspectos culturais; provavelmente o restante da Europa era visto como algo ainda a ser conquistado e tratando-se do período medieval, uma conquista para conversão religiosa. O que fica evidente era de que esta região apresentava uma característica singular de tolerância entre povos distintos entre si, não vivida em outros locais, como o restante da Europa e do Oriente. A única relação bem vista entre todos e que segue até hoje, era a manutenção de um comércio, que se sobrepunha a qualquer elemento cultural, religioso e étnico; ou seja, vender e comprar era mais importante que qualquer diferença.
      Agradecemos, Junior Benedito Pleis e Talita Seniuk.

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  3. Bom dia! Inicialmente, quero parabenizar os autores, Junior Pleis e Talita Seniuk, pelo excelente artigo! Muito interessante a leitura! É realmente um tema que deveria ser mais abordado no ensino da História, pois a relação entre cristão e árabes nem sempre foi de extrema oposição, como faz parecer o senso comum. Em determinado ponto do texto, vocês citam que os árabes tiveram contato direto com as obras gregas. Como se deu esse contato? Foi por meio do Império Bizantino? Muito obrigado!

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    1. Olá, Eduardo!

      Agradecemos seu interesse em nosso texto!

      A filosofia árabe tem como base o desenvolvimento islâmico através de Maomé. Se para nós, ocidentais, a filosofia oriental ainda não tem seu merecido espaço nos dias de hoje, durante seu florescimento em seu território ela ocupou tudo que podia. As influências helênicas que eram estudadas no Ocidente foram proibidas a partir do século VI com Justino, mas, com isso ganharam o Oriente. Alguns mestres então decidiram migrar, por exemplo, para Nissibin (Irã) e a Síria onde fundaram escolas de teologia e filosofia e assim este pensamento chegou a estes povos. As escolas siríacas traduziram vários filósofos gregos, em especial Aristóteles, que foi fundamental na composição na vindoura filosofia religiosa muçulmana (motazilitas e os kalâm); os filósofos árabes ora se aproximavam ora se distanciavam da teologia e do pensamento grego, construindo uma filosofia singular.

      E este tema realmente deveria sim ser abordado nas aulas de História, pois nem sempre houve essa oposição, pois a falta de discussão e a adoção dessa postura só alimenta ainda mais este estereótipo equivocado.

      Agradecemos, Junior Benedito Pleis e Talita Seniuk.

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    2. Muito obrigado pela resposta! Um abraço!

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