Jéssica Kotrik Reis Franco

 A POLÍTICA DOS FARAÓS PTOLOMEUS EM ALEXANDRIA, EGITO


Segundo Diodóro da Sicília [90 a.C - 30 a.C], historiador grego, quando Alexandre chega ao Egito em 332 a.C, ele não sofre grande resistência por parte da população local. Naquele período, o Egito estava sob domínio dos persas, e por esse motivo, os egípcios o consideraram como uma espécie de libertador. Pois apesar da conquista, manteve relativa autonomia do território e permitiu a volta e manutenção das tradições e cultos locais. Sabemos ainda, que para legitimar seu poder e representar seus ideais de império, Alexandre concretizou sua proposta através da fundação de cidades-capitais nos locais conquistados, cidades estas que levavam seu nome, as Alexandrias. A mais famosa e que melhor representou o helenismo, sem dúvida alguma, foi a Alexandria do Egito. Localizada no extremo do Delta do Rio Nilo:

 


Mapa do Delta do Rio Nilo

Fonte: DAVID, 2011, sem paginação.

 

Alexandria foi o maior centro cultural e intelectual da antiguidade durante séculos. Alexandre fundou a Alexandria egípcia aos arredores de um pequeno vilarejo de pescadores chamado rakotis no ano 331 a.C. O local era estratégico, longe das enchentes do Nilo, mas perto o suficiente para que pudessem ser escoadas mercadorias entre ele e o mar Mediterrâneo através do lago Mareotis. Além disso, a cidade localizava-se no centro norte do Egito, e assim era possível ter o controle do Delta e ainda se beneficiar do encontro com o Mar Vermelho. Sobre a organização da cidade, John Ferguson nos informa:

 

“A cidade dividia-se em cinco bairros, conhecidos pelas letras do alfabeto grego: Alfa, Beta [a área do palácio], Gama, Delta [o bairro dos judeus] e Épsilo; a divisão exata nunca foi identificada. Entre as grandes construções, contavam-se o palácio, o túmulo de Alexandre [conhecido por [O Corpo]], o Templo das Musas, a universidade e a biblioteca, os jardins zoológicos, o Templo de Serápis, o magnifico ginásio, o estádio e o hipódromo, o teatro, o Santuário de Pã. Um canal ligado ao Nilo assegurava as comunicações e o fornecimento de água; também havia cisternas, destinadas ao aproveitamento de água da chuva. Uma muralha de cerca de 40 km cercava a cidade”. [FERGUSON, 1973, p. 28].

 

Segundo Arriano [92 a.C -75 a.C], historiador romano, “consciente de que era do seu interesse não decepcionar a simpatia e a consideração dos egípcios, o conquistador macedônio mostrou respeito pelos costumes nativos e ofereceu sacrifícios aos deuses locais” [SCHWENTZEL, 2009, p.15]. Portanto, como parte de sua política, Alexandre demonstrou admiração pela história dos faraós, a ponto de ele mesmo se tornar um. Para realizar tal ato de forma legítima perante a população, ele visitou o oráculo do deus egípcio Amon em 331 a.C, localizado no Oásis de Siwa, no deserto líbio. Nesse local, Alexandre foi nomeado pelo oráculo como filho do próprio deus, portanto, legítimo Faraó do Egito [MOSSÉ, p.30-31].

Atravessando o deserto e chegando à cidade onde estava o templo, Alexandre foi saudado pelo profeta de Amon com o título de filho de Júpiter – versão grega do deus egípcio Amon” [PLUTARCO, 2016, p. 56]. Ainda sobre a peregrinação a Siwa, “[...] pode-se aceitar a explicação dada por Arriano, isto é, o desejo de Alexandre de rivalizar com Perseu e Héracles porque ele era da raça deles dois” [MOSSÉ, 2004, p. 31]. Mas não foi somente a admiração pela religião faraônica e a vontade de se igualar a deuses e heróis que motivou Alexandre a atravessar um inóspito deserto. Como demonstra a egiptóloga Rosalie David, os sucessores de Alexandre no Egito adotaram a mesma estratégia, ao que tudo indica, pelo mesmo motivo:


“Embora não existam evidências convincentes de que Alexandre considerou a “deificação” algo diferente do reconhecimento usual de um rei egípcio, ou que se tenha promovido como um deus pelo restante do seu império baseado no oráculo de Siwa, o seu reconhecimento como divino e legítimo sucessor teria auxiliado seus sucessores estrangeiros a serem aceitos como faraós egípcios. Uma tradição posterior que afirma que Alexandre era filho natural de Nectanebo II, o último rei nativo do Egito, com Olímpias, esposa de Felipe II da Macedônia [presumivelmente seu pai], se aproveitou da tradição egípcia de que cada faraó era o “filho de Rá”, baseado na suposição de que o deus tinha visitado a rainha sob a forma de seu marido” [DAVID, 2011, p. 416].

 

Após sua chegada como libertador no Egito, a estada de Alexandre na terra dos faraós é importante principalmente diante desses dois aspectos citados acima, a fundação de Alexandria e sua peregrinação ao oráculo de Siwa. Ele partiu na primavera de 331 a.C, após passar o cargo de governador do Egito para Cleómenes, grego de Naucrátis. Alexandre deu continuidade ao seu projeto expansionista, porém, seu intuito de conquistar a Índia em 326 a.C não foi vitorioso. Voltou para a Babilônia e morreu em 323 a.C. Não nomeou herdeiros para governar seu vasto império. Segundo o especialista em Alexandre, Peter Green, essa nomeação não foi uma preocupação que Alexandre teve durante sua vida, uma vez que sua incessante busca por glória o fez simplesmente ignorar o futuro:

 

“Em seu leito de morte perguntaram-lhe a quem deixava seu reino. “Ao mais forte”, ele respondeu segundo os relatos. Estas palavras podem ser históricas ou não, mas certamente caem como uma luva. Que outro herói homérico tente se equiparar a ele. Não há uma noção de continuidade” [GREEN, 2014, p. 50].

 

Sendo assim, sabemos que ocorreram acirradas disputas entre os generais de Alexandre para dividir o território, a ponto da sua esposa, Roxana, e seu único filho ainda pequeno, Alexandre IV, serem assassinados por Cassandro, um dos generais. Ainda naquele ano, o séquito militar de Alexandre executa a divisão do império helenístico em províncias, as satrapias. Mas os Diádocos – sucessores de Alexandre – logo entraram em conflito. Ptolomeu, um dos generais de maior confiança e experiência de Alexandre, obteve o Egito para governar. Em 321 a.C sofre uma tentativa de invasão por parte de Perdicas, o regente da Babilônia. Com a vitória militar, Ptolomeu reafirma seu poder e confirma seu prestígio perante os egípcios. Por volta de 305 a.C, Ptolomeu Lagos proclama-se o basileus [rei], acrescenta o epíteto Sóter [salvador] ao nome, e coroa-se com o diadema, que passou a ser a insígnia da realeza helenística [SCHWENTZEL, 2009, p. 19]. 

Ptolomeu I Sóter [305 a.C- 282 a.C] deu início a dinastia lágida e a um período de relativa estabilidade no Egito. Relativa, porque seu governo foi marcado por uma expansão das fronteiras do reino, sobretudo em direção ao Chipre e as ilhas do Egeu. Tal expansão estava ligada à busca por pontos de apoio no Oriente e na Ásia Menor. Ademais, as disputas de hegemonia com os selêucidas foram presentes ao longo de todo o período ptolomaico, e ficaram conhecidos na história como as guerras sírias, foram seis ao total. Outras motivações para tais conquistas incluíam manter a integridade e a segurança das fronteiras, sobretudo da costa marítima que até então não tinha uma frota naval potente em sua defesa, e conquistar regiões fornecedoras de ouro e prata a fim de expandir os mercados de exportação de produtos  agrícolas locais, principalmente por conta da ausência de uma moeda egípcia para o pagamento de soldados mercenários [VELLILA, 1992, p. 88]. Diante de uma necessidade de legitimação, logo que começou a governar, Ptolomeu I deu início a uma política de aproximação religiosa e cultural com os egípcios [DAVID, 2011, p.417] . Após a morte de Alexandre em 323 a.C na Babilônia, Ptolomeu I interceptou o corpo do monarca, o levando  à Mênfis e depois a Alexandria, onde foi enterrado, estabelecendo em seguida o culto a Alexandre [SCHWENTZEL, 2009,  p. 19]. que daria origem também ao culto ao soberano ptolomaico:

 

“Os Ptolomeus adotaram o papel de faraós egípcios, mas ainda sentiam necessidade de justificar seus reinos. Ptolomeu I inaugurou um culto divino de Alexandre, o Grande, e construiu um templo em Koptos para seu próprio culto. Seu filho e sucessor, Ptolomeu II, estabeleceu um culto oficial para si próprio e para a rainha, sua irmã, criando dessa forma um padrão para o culto dinástico. Embora essa fosse uma inovação helenística, estava intimamente ligada ao culto real egípcio e incorporou os Ptolomeus deificados mortos nos templos, onde partilharam os santuários com uma deidade egípcia, e receberam os ritos e oferendas reais tradicionais que sempre tinham sido apresentadas ao rei vivo e aos regentes ancestrais do Egito”. [DAVID, 2011, p. 423].

 

Também é importante destacar que tais cultos associados à figura de um rei estavam enraizados nas culturas orientais e encontraram território fértil, não só no Egito, mas em boa parte dos territórios conquistados por Alexandre no Oriente, como aponta Velilla:

 

“En Oriente, donde Alejandro impuso la hegemonia griega, sustituyendo a los antiguos monarcas, la creencia em el rey como um representante de la divinidad em la Tierra era, o al menos había sido, habitual. Por esta razón, a la hora de buscar antecedentes de esta institución, es decir, del culto dispensado a los reyes helenísticos, se habla em primer lugar de la influencia oriental” [VELILLA, 1992, p. 175].

 

Desde o nascimento de Alexandre, o Grande, a historiografia clássica lhe atríbui ancestralidade divina, por parte de sua dinastia na Macedônia, materna e paterna. Além disso, durante sua vida ele sempre buscou se equiparar a heróis gregos [GREEN, 2014, p. 47]. Por isso, segundo Velilla, não podemos dispensar a contribuição da mentalidade greco-macedônica para a divinização real. Tendo em vista que esses aspectos estavam presentes  tanto nas sociedades orientais como na grega, podemos inferir que tais cultos reais não tiveram  dificuldade em se estabelecer nos reinos helenísticos, sobretudo os dedicados a Alexandre:

 

“Para los griegos era claro, ya em fechas muy anteriores al Helenismo, que los hombres sobresalientes debían diferenciarse de los demás mortales, y que tenían unos derechos mayores y diferentes al resto indivíduos. Incluso Aristóteles, em un passaje de su Política [III, 8 = 1284 a], lo formula de manera expressa y lo mismo puede decirse de otros filósofos, como el mismo Pláton o Jenofonte, si bien de manera diferente. Igualmente poetas, magos, adivinhos, etc., podían ser considerados, em función de posser unas dotes extraordinárias, como theoi, es decir, divinos. Em ámbito griego era uma costumbre antigua venerar como héroes, después de su muerte, la figura de estos seres destacados, cuyas virtudes eran enaltecidas y comparadas a las divinas em los cantos compuestos por los poetas para loa y gloria de dichas figuras, elevadas a la categoria de héroes” [VELILLA, 1992, p. 175].

 

Sobre as mulheres e o culto real, algo muito próximo ao que ocorria durante o Egito faraônico aconteceu durante o Egito ptolomaico. Em geral, a esposa real associava-se a uma divindade feminina; a partir de Cleópatra III [165 a.C- 101 a.C] essa associação era feita com a deusa Ísis [DAVID, 2011, p. 426], e ocupava o lugar de consorte ao lado de seu marido, o faraó, que po r sua vez, era o representante legítimo dos deuses na terra. David afirma:

 

“As rainhas ptolomaicas desempenharam um papel importante no culto real e são muitas vezes mostradas nos relevos dos templos egípcios como a esposa real e corregente. O conceito faraônico do rei como personificação do estado e a sua ligação com os deuses era, até certo ponto, refletido na ideologia helenística de reinado” [DAVID, 2011, p. 424].

 

Nos governos seguintes ao de Ptolomeu I, de Ptolomeu II Filadelfo [309 a.C- 246 a.C] e Ptolomeu III Evérgetes [280 a.C- 221 a.C], notamos uma continuidade dessa política       expansionista e um reforço das práticas de culto ao soberano em acordo com as antigas classes  sacerdotais egípcias – sobretudo no governo de Ptolomeu III, no qual houve uma preocupação  maior em consolidar o elemento grego na população nativa que começou a despertar politicamente, o que culminou em uma série de revoltas. Interessante perceber que tais revoltas eram sempre iniciadas e intermediadas pela classe sacerdotal egípcia, que em troca de benefícios concedidos pela coroa alexandrina, como a concessão de terras e a isenção fiscal dos  templos, também era a responsável por apaziguar tais incitações populares [VELILLA, 1992, p. 147-148]. A monarquia lágida começou a dar sinais claros dessa instabilidade no reinado de Ptolomeu IV Filopator [221 a.C- 203 a.C].

Apesar de uma vitória militar obtida em Ráfia contra os selêucidas, no ano de 217 a.C, o rei, que o historiador grego Políbio apresenta como um “pândego indolente”, se desinteressou totalmente pelos assuntos do reino, os quais foram entregues a seus ministros. Ainda, a partir do ano de 216 a.C, o Egito conheceu numerosos levantes e a política interna sofreu graves abalos. A população autóctone era majoritariamente composta pelo campesinato, e muitas revoltas aconteciam devido as pesadas tributações as quais estavam submetidos. Como nos tempos faraônicos, a terra pertencia ao estado, ou seja, ao próprio faraó. Assim, a prática da agricultura era rigidamente fiscalizada pelo governo e quase que a totalidade de sua produção pertencia a ele. Em tais levantes, também era presente um sentimento nacionalista em protesto ao domínio grego [VELILLA, 1992, p.149].                                                                        

Por esse motivo, foi estratégia unanime de sucessivos governos ptolomaicos, a aproximação com elementos egípcios, como as insígnias do poder faraônico e a religião egípcia. Os templos religiosos e a classe sacerdotal também estavam sujeitos a tal tributação e fiscalização, por esse motivo, quase sempre estavam por detrás de tais insurreições populares, mas também por detrás da negociata com o faraó. Desse modo, sabemos que essa classe sacerdotal se firmou como uma elite local que gozava de grande poder e influência dentro da sociedade egípcia “o destino da antiga aristocracia egípcia é incerto, mas provavelmente apenas sacerdotes sobreviveram como uma elite nativa, principalmente porque os reis precisavam de sua aceitação e apoio” [DAVID, 2011, p. 422].  Para além disso, as turbulências internas fomentadas pelas disputas de interesses entre reis muito jovens que ascendiam ao poder e seus mentores, aliadas a crescente intervenção romana nos assuntos do Mediterrâneo Oriental, tiveram significativo impacto negativo sobre a autoridade real. Concomitantemente, sucessivas crises econômicas devido as finanças do reino   serem cada vez mais afetadas perante as concessões financeiras feitas a funcionários e sacerdotes [SCHWENTZEL, 2009, p. 19-20].

Contudo, um dos elementos no qual apoiavam-se os Ptolomeus, era a própria cidade de   Alexandria. Ela representava a polis grega e ao mesmo tempo o mundo helenístico, em sua perspectiva universal: “Dá-se uma transformação política. A cidade-estado não basta. Tem de ser enquadrada num império mundial. É o que sucede. O segredo político do período helenístico consistiu em manter os valores da cidade-estado num vasto domínio, misturar centralização e descentralização, combinar os valores positivos da larga unidade política com um forte sentido da responsabilidade local” [FERGUSON, 1973, p. 178]. Sua importância foi crucial para a centralidade e legitimidade do poder real. Construída de forma estratégica para proteger as fronteiras egípcias por vias marítimas, era também por onde ocorria o escoamento de mercadorias, além de abrigar a corte helenística, podemos dizer que ela representava o ideal helenístico, em que se pese, sua diversidade étnica-cultural:

 

“Por cierto que la existência de una ciudad como Alejandría, no sólo sede y residência de la Corte y los reyes, sino importante como polis griega, pese a la mezcla de gentes de Orígenes étnicos diferentes allí assentada, fu ela causa fundamental de que pudiera darse durante um cierto tempo este floreciente comercio internacional. La construcción de la própria ciudad demostraba um alto grado de previsión cara al futuro, pues fue situada al oeste de los terrenos pantanosos del Delta, em um lugar em el que mediante la comunicación del continente com la islã de Faros a través de um canal, se conseguían dos puertos” [VELILLA, 1992, p. 163].

 

Duas descrições nos dão noções da cidade. Primeiro, a do já citado historiador Diodóro da Sicília, que visitou Alexandria em 59 a.C, no reinado de Ptolomeu XII Aulete, pai de Cleópatra VII, e a segunda é a do geógrafo Estrabão, que esteve no Egito entre os anos de 25 a.C e 24 a.C. Nos textos deixados por ambos, vemos referências a “edificações suntuosas”, especialmente no que diz respeito ao Farol de Alexandria, considerado símbolo da cidade. O Farol era obra do arquiteto Sostrato de Cnido, iniciada durante o governo de Ptolomeu I, mas concluída apenas no reinado de Ptolomeu II. Segundo Estrabão, a construção media 120 metros de altura e foi erigida em calcário, mármore e bronze, e um fogo no topo que era visível a cem milhas de distância [SCHWENTZEL, p. 94-99].

Em Alexandria, havia também um grande número de templos, muitos deles consagrados  à deusa Ísis. Na ilha de Faros, por exemplo, havia um santuário dedicado a Isis Pharia, ou seja,  indicando a deusa como a divindade protetora do farol, e templo de Philae era dedicado exclusivamente a ela. Já o templo de Serápis, uma divindade oriunda do sincretismo helênico- egípcio, que tinha como fusão os deuses egípcios Ápis e Osíris, era o maior templo helenístico de seu tempo. A quantidade e a magnificência dos palácios helenísticos também serviram como fortificações a César durante o Cerco de Alexandria em 47 a.C, nas batalhas travadas contra Arsínoe IV e Ptolomeu XII [SCHWENTZEL, 2009, p. 89-92].

Entre tais construções, a Biblioteca de Alexandria foi um dos centros do mundo intelectual antigo [GUARINELLO, 2013, p.124]. Em anexo a ela, havia um museu, uma espécie de centro de pesquisa onde sábios e estudiosos do mundo todo podiam hospedar-se subsidiados pela monarquia para realizarem seus estudos. O Ginásio, uma das maiores construções de Alexandria, foi palco de ocasiões importantes, sobretudo, durante o reinado de Cleópatra VII [FERGUSON, 1973, p.29].

 

Mapa da cidade de Alexandria

Fonte: SCHIFF, 2011, sem paginação.

 

Assim, a cidade portuária tornara-se a fundação mais importante de Alexandre no Mediterrâneo, com trezentos anos quando incorporada por Caio Otávio [63 a.C - 14 d.C] e transformada na capital da província romana egípcia. Antes desta conquista, era a segunda metrópole do mundo habitado em população e tamanho. Como a capital do antigo reino do Egito, era um território rico e intrigante para os romanos há séculos, além de um importante fornecedor de trigo para Roma [CLÍMACO, 2013, p. 149].

 

Referências

Jéssica Kotrik Reis Franco, é mestranda no Programa de Pós-graduação em História pela Universidade Federal do Paraná, bolsista CAPES (2021-2023). Especializanda em História e Arqueologia Antiga e Medieval pelo Instituto Tecnológico e Educacional de Curitiba (2020-2021). Bacharela e licenciada em História pela Universidade Federal do Paraná (2019).

FONTES

PLUTARCO. Alexandre e César. Tradução: Hélio Vega. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2016.

REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CLÍMACO, Joana Campos. A Alexandria Antiga refletida pelo olhar romano. Romanitas: Revista de Estudos Grecolatinos, USP, 2013, São Paulo.

DAVID, Rosalie. Religião e Magia no Antigo Egito. Tradução: Angela Machado. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2011.

FERGUSON, John. A Herança do Helenismo. Tradução: António Gonçalves Mattoso Editorial Verbo, Lisboa, 1973.

GREEN, Peter. Alexandre, O Grande e o período helenístico. Tradução: Rafael Mantovani. Objetiva, Rio de Janeiro, 2014.

GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. Editora Contexto, São Paulo, 2013.

MOSSE, Claude. Alexandre, o Grande. São Paulo: Estação Liberdade, 2004.

SCHIFF, Stacy. Cleópatra: uma biografia. Tradução: José Rubens Siqueira. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2011.

SCHWENTZEL, Christian-Georges. Cleópatra. Tradução: Paulo Neves. Editora L&PM Pocket, Porto Alegre, 2009.

VELILLA, Arminda Lozano. El Mundo Helenístico. Editora Sistesis, Madrid, 1999.

17 comentários:

  1. Cara Jéssica, inicialmente, quero te parabenizar pelo excelente texto! Gostei muito da leitura e da oportunidade de aprender um pouco mais sobre o período. Tenho duas perguntas em relação ao período ptolomaico: a) Houve casamentos entre a elite grega e a elite egípcia, a fim de consolidar o poderia da primeira? b) qual a relação do Egito Ptolomaico com a Núbia, antiga fornecedora de ouro para o Egito? Era a mesma relação de domínio do período faraônico? Desde já, muito obrigado pela atenção!

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    1. Obrigada pela sua participação Eduardo Sodré Farias! Fico feliz que você tenha gostado e que o texto tenha contribuído de alguma forma. Sobre suas questões, seguem as respostas:

      a) O casamento entre as elites locais e gregas era permitido apenas da seguinte forma: Gregos poderiam se casar com mulheres egípcias, mas não o contrário.

      b) Nesse período, a Núbia continuou fornecendo ouro para o reino egípcio e os acordos políticos e militares também eram presentes.

      Espero ter respondido :)

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    2. Respondeu sim, Jéssica! Muito obrigado!

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  2. Boa tarde,
    Seria possível argumentar que a escolha de Alexandria como capital em vez de uma cidade mais antiga, como Mênfis, acentuou a separação que existia entre os faraós ptolomaicos (e sua elite greco-macedônia) e a população egípcia em geral, que contribuiu para as revoltas que abalaram o Egito a partir do reinado de Ptolomeu IV?
    Grato, Vinícius Andrade de Araújo.

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    1. Olá Vinícius Andrade de Araújo! Primeiramente, obrigada pela sua participação. Sobre suas questão, segue a resposta:

      É possível sim! Até porque, as cidades e antigas capitais egípcias como Mênfis, apesar da existência de Alexandria, continuaram a carregar relativa importância, mesmo que simbólica, que tinham no tempo faraônico, pelo menos durante os primeiros anos dos reinados dos Ptolomeus. Essa importância estava na esfera cultural e religiosa principalmente, o que não se distancia muito da questão política no Egito Antigo, que era um Estado teocrático. Além disso, tais revoltas nativas eram suscitadas, encabeçadas e intermediadas pelo sacerdócio egípcio. Mênfis, por exemplo, era o local onde os faraós Ptolomeus, após assumirem o trono egípcio, iam para reafirmar sua coroação, com ritos religiosos, realizados no templo. Esta tradição, inclusive, era empreendida no período faraônico. Tal aproximação com tais tradições era, como demonstrado no texto, fator de legitimação do poder, inclusive para evitar tais insurreições, se aproximar da cultura local, criar vínculos de legitimidade sucessória e identificação cultural. Por fim, podemos pensar que o próprio corpo de Alexandre, depois de sua morte, estava sendo levado à Mênfis, quando foi interceptado por Ptolomeu e levado à Alexandria, para que o culto à Alexandre fosse estabelecido lá. Uma vez que, Alexandria foi a representante da polis e conquista grega no Egito, além da capital administrativa e real. Sem esquecer que, Alexandre, foi coroado como sendo faraó no oráculo de Siwa.

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  3. Cara, Jéssica Kotrik Reis Franco!
    Primeiramente, aprouve parabeniza-la pelo esmero trabalho e que gerou esse saboroso fruto do conhecimento construindo assim uma significativa contribuição para os estudos da temática deste Simpósio. Quero interroga-la sobre como surgiu a ideia de pesquisar sobre esse tema e quais foram os caminhos trilhados para que se chegasse nesse resultado?

    Wagner Pereira de Souza

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    1. Olá Wagner Pereira de Souza! Muito obrigada pelos seus comentários e fico feliz que a leitura tenha sido agradável! Bom, este tema chegou até mim através de um interesse desde a graduação em História, onde quis pesquisar e estudar sobre o Egito antigo. Assim, durante ela, pude realizar um estágio durante dois anos em um museu egípcio que existe aqui na cidade onde moro, em Curitiba, onde pude também me aproximar do tema que escolhi para a minha monografia, que foi estudar o reinado de Cleópatra VII, a última faraó do Egito, rainha que ficou muito conhecida na História e que pertenceu à dinastia Ptolomaica. Nesta pesquisa de conclusão de curso, eu procurei investigar os elementos de poder das monarquias helenísticas e a política empreendida por Cleópatra durante seu reinado. Deste trabalho, nasceu este texto :)

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  4. Parabéns pelo texto Jéssica! Muito interessante!
    Pergunta: Além dos sacerdotes , existia outra classe da sociedade egípcia em Alexandria que também possuía uma importância maior?
    Obrigado, Luís Cláudio Muniz Miguel.

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    1. Olá Luís Cláudio!

      Obrigada pelo retorno, que bom que o trabalho lhe interessou! Sobre sua questão:

      Podemos pensar que além da elite grega e real, além dos sacerdotes egípcios, também tínhamos elites citadinas de Alexandria, como os romanos, a comunidade judaica, e até mesmo outros extratos da sociedade nativa (e grega), como os escribas e uma elite intelectual também. Nesse período, sobretudo, temos uma diversidade cultural muito presente, principalmente em Alexandria, uma cidade portuária, com grande circulação de pessoas. Espero ter respondido :)

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  5. Obrigado pela resposta!

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  6. Edevanilson Facundes da Silva6 de outubro de 2021 às 22:39

    Boa noite Jéssica tudo bem? em primeiro lugar parabéns pelo riquíssimo texto, interessante como ocorreu o sincretismo entre as culturas e religiões gregas e egípcias, enriquecendo ainda mais esses povos, minha pergunta é antes da chegada de Alexandre ao Egito esses povos já tinham mantido algum tipo de relação? obrigado pela atenção: Edevanilson Facundes Da Silva

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    1. Olá Edevanilson! Agradeço pela sua leitura e pergunta :)

      Sim, muito antes da chegada de Alexandre no Egito, tanto os gregos quanto os romanos, assim como outros povos do Oriente Próximo e do Crescente Fértil já tinham contato e mantinham relações comerciais, políticas e diplomáticas com os egípcios. No caso dos gregos e romanos, podemos dizer que nesse período que trabalhei no meu texto, as relações se intensificaram. Porém, quando pensamos no "mundo antigo", mesmo não tendo os recursos tecnológicos que nossa sociedade dispõe nos dias atuais para se locomover de forma rápida, os povos antigos também circulavam muito e tinham essas interações, não só com disputas e acordos, mas também com diversas trocas culturais, o que resultava numa simbiose de influências, como no caso greco-egípcio.

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  7. Olá Jéssica! Td bem? Muito obrigado pelo texto. Gostaria de saber como você entenderia, no quadro do Egito ptolomaico, as revoltas locais, que foram de cunho "nativista" (i.e. contra os "gregos" e a favor dos "faraós egípcios"), que foram muitas e muito violentas, embora pouco divulgadas. Muito obrigado novamente! Um abraço, Vicente

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    1. Olá Vicente, muito obrigada pelos apontamentos!

      Bom, de fato, vemos tais revoltas acontecerem durante todo o período Ptolomaico, com algumas ressalvas, talvez nos primeiros reinados ali com Ptolomeu I, II e até mesmo III. Acredito, através das minhas leituras e do que conheço deste período, que tais revoltas aconteciam pelos altos tributos e impostos taxados aos templos, por esse motivo tais revoltas eram sempre, ou quase sempre, encabeçadas pela classe sacerdotal egípcia, assim como, o intermédio e acordos entre os revoltosos e a coroa era feito por eles, pois continuaram a exercer grande influência na sociedade egípcia nesse período. Além disso, toda vez que o faraó (da dinastia ptolomaica, me refiro) se distanciava de seu papel diplomático para com a população local, e ficava isolado em Alexandria, sem se movimentar pelo interior do território egípcio, e se aproximar dos símbolos faraônicos e da tradição local, até mesmo da figura de Alexandre, como conquistador, tais revoltas eram mais frequentes ainda. Por esse motivo, Cleópatra VII, a última dos faraós Ptolomeus utilizou de tais atifícios mencionados acima como forma de estabilizar seu governo num período de significativa instabilidade após seu pai governar. ór exemplo, ela falava a língua local, se dizia a última (e de fato era) herdeira de Alexandre e do Império Helenístico no oriente, e se associou à deusa Ísis se proclamando a própria deusa renovada (aparecia em público só com as vestes das deusa a partir de 34 AEC segundo Plutarco), e utilizava as insígnias faraônicas (cetro, cajado e coroa dupla).

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  8. Olá Jéssica. Parabéns pela exposição, você fez uma contextualização geral dos ptolomeus que ficou muito boa, principalmente no que se refere à importância de Alexandria e as formas de legitimação. Sobre as relações internacionais, destacou o interesse pelo Mediterrâneo e as lutas na Síria, que garantiram a autonomia do Egito da época. Gostaria de saber se na suas leituras aparece algo sobre o interesse dos Ptolomeus na região do Mar Vermelho, suas relações árabes e bedjas e com os reinos de Cuxe, Assum e outros que garantiam o fluxo de especiarias vindas do Mar da Eritréia.

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  9. Olá Jéssica. Parabéns pela exposição, você fez uma contextualização geral dos ptolomeus que ficou muito boa, principalmente no que se refere à importância de Alexandria e as formas de legitimação. Sobre as relações internacionais, destacou o interesse pelo Mediterrâneo e as lutas na Síria, que garantiram a autonomia do Egito da época. Gostaria de saber se na suas leituras aparece algo sobre o interesse dos Ptolomeus na região do Mar Vermelho, suas relações árabes e bedjas e com os reinos de Cuxe, Assum e outros que garantiam o fluxo de especiarias vindas do Mar da Eritréia. Carlos Eduardo Martins Torcato

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    1. Olá Carlos Eduardo! Muito obrigada pelo seu feedback! Com relação à essas temáticas que você explorou em seu comentário, eu não aprofundei (ainda). Pois este trabalho que apresentei aqui, deriva de minha monografia da graduação, e no mestrado, que curso agora, acabei indo por um caminho um pouco diferente, mesmo trabalhando com o Egito Antigo ainda. Contudo, estas relações, sobretudo com Cuxe, são questões que eu sempre fiquei com muita vontade de aprofundar mais. Inclusive, não só no período Ptolomaico. Como eu trabalhei com o reinado de Cleópatra VII na minha breve pesquisa de TCC, percebi nas fontes e na historiografia, que Cleópatra era muito atuante com relação à política externa, além das relações do Egito com Grécia e Roma no período. Por exemplo, quando ela foi acusada de conspirar para governar sozinha, pelo séquito de Ptolomeu XIII, ela ficou um período de tempo exilada na Síria, e lá conseguiu formar um exército mercenário. Portanto, isso demonstra, por exemplo, que as relações do Egito com os reinos de fora era contundente. Além disso, Cleópatra contracenou com outros reis de destaque de sua época, governantes de reinos "vassalos" do reino egípcio, como Herodes. Por fim, vou ficar te devendo uma reposta mais aprofundada, mas este tema, de fato, é fascinante e me interesso muito, até para uma futura pesquisa!

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