Israel Zayed

 HANDALA, NA LUTA CONTRA A OCUPAÇÃO: O PROJETO COLONIAL E A LUTA PELA LIBERTAÇÃO ATRAVÉS DO CARTUM POLÍTICO PALESTINO


Há décadas - para não dizer séculos - o imaginário e o poder, baseados nas diferenças coloniais, traçam fronteiras e transformam populações. Desde o século XIX até a contemporaneidade esses marcadores avançam em múltiplos campos e plataformas, do religioso ao científico, do artístico ao tecnológico. Neste ano de 2021, tivemos as comunidades árabes palestinas nativas, novamente interpretadas no noticiário nacional, muitas vezes reforçando os conceitos já estabelecidos no orientalismo, onde a mídia tradicional tende a performar com seus âncoras ou especialistas uma certa identidade árabe, distante do olhar da alteridade. Ao mesmo tempo, as redes sociais contribuíram, através dos sujeitos internos, em diáspora, seus descendentes ou aliados para que perspectivas palestinas ganhassem visibilidade, e, ainda que nas brechas, a supremacia israelense e de seus aliados fosse abalada, tendo parte de suas propagandas discursivas perfuradas. Nestas fendas, uma categoria se apresenta com destaque: crianças palestinas presas, feridas, desabrigadas, mutiladas e quase uma centena delas assassinadas entre janeiro e junho de 2021. O que se vê não é uma trágica coincidência ou fatalidade pois estado de sítio é permanente.

Esta comunicação propõe demonstrar como o duplo projeto moderno/colonial na Palestina histórica tem se intensificado a partir da institucionalização da violência estatal, podendo ser traduzido no campo interdisciplinar dos estudos culturais sob os conceitos de colonialidade e necropolítica, praticados pelo estado-nação de Israel. Nesse sentido, apresentamos algumas reflexões de como os dispositivos e a colonialidade do poder e do saber e do ver conduzem as estratégia de enquadramento, representação, dominação e morte das populações árabes nativas, seus territórios e histórias. Buscamos demonstrar que, mesmo localmente em desvantagem, a luta palestina é multi-geracional e etária, onde daremos às fronteiras da infância e da juventude, seja através dos corpos dessas crianças - aliciadas; investigadas; julgadas e presas por Israel - mas, em especial, no imaginário artístico e ativista de origem palestina. Fato é que a infância palestina, sobretudo as experimentadas nos territórios ocupados ou nos campos de refugiados, luta as mesmas guerras coloniais desde o séc XX, e em múltiplos cenários. Para essa comunicação queremos apresentar os cartuns de Handala - criado por Naji al-Ali - que traz em sua origem as consequências da tragédia palestina a partir das experiências nativas de bases populares, sofridas pelos eventos de 1948 e seus desdobramentos. Neste front imaginário está Handala, um garoto em cartum que, por décadas, assim como seu povo, resiste às experiências adversas, supera a morte e outras barreiras, denunciando os crimes de um Estado onde a diferença colonial se traduz em apartheid e aproxima a dor, a obstinação e o sonho nacional palestino às fronteira da história, do jornalismo e da estética, onde a experiência de catástrofe humanitária, ou seja, coletiva, vivenciada pelas comunidades árabes-palestinas, se dá a partir da Nakba até os dias atuais. Desde então, o personagem em cartum vem lutando contra a desumanização no sentido integral e mesmo com o  assassinato do artista em 1987, Handala segue presente, apropriado por indivíduos ou grupos ativistas sendo não apenas símbolo mas um manifesto artístico e político vivo, nas denúncias contra as violações sobre as vidas e corpos palestinos e pela libertação palestina de base secular.

 

Entre os tabloides e corpos das infâncias palestinas.

Segundo a ONG Defence for Children International - Palestine, vinculada à Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (UNCRC), e noticiado pelo Monitor do Oriente Médio (MEMO) - um instituto de pesquisa política sem fins lucrativos, que fornece artigos, informações e análises, principalmente sobre o conflito Palestina-Israel - apontou que entre janeiro e julho de 2021, 250 crianças foram presas e outras 70 mortas pela Força de Defesa Israelense (FDI). Além dessas, outras 85 foram feridas. Dessas mortes, 61 ocorreram em Gaza. Nas estimativas mais moderadas, entre territórios ocupados e onde se encontram Israel e Palestina, uma criança árabe-palestina é morta a cada três dias. Ainda em novembro de 2020, a Sociedade de Prisioneiros Palestinos (SPP) divulgou um comunicado que já se encontravam presas, pelas autoridades israelenses, o montante de 400 crianças palestinas.

 

Israel é o único país do mundo a processar crianças rotineiramente em tribunais militares que carecem de salvaguardas básicas para um julgamento justo. Além disso, as crianças palestinas detidas por Israel enfrentam abusos e tortura sistemática, legitimados pelo judiciário e pelo governo.” [MEMO, 2020]

 

O crime mais frequente praticado por elas, segundo Israel, é o lançamento de pedras, considerado por eles um crime de segurança.

 

(Figura 1 - Quatro crianças palestinas atiram pedras em um rolo compressor que possui um militar israelense ao volante e um glutão, representando uma liderança árabe aliada aos interesses coloniais.) (1987)

De que maneira o controle sobre a saúde, a vida e a morte de crianças e jovens chegou a tal ponto? O que é ser uma criança palestina? E ainda, há espaço para a arte e a infância árabe palestina? Devemos olhar criticamente para essa tragédia humanitária evitando os enquadramentos discursivos hegemônicos ou binários pois, sim, a infância palestina na produção artística, representa sobretudo a partir da nakba e das resistências ativistas locais, lutas que podem ser verificadas, por exemplo, na personagem em cartum, Handala - um garoto pobre e obstinado, que luta contra a desumanização da soberania colonial em Israel e as lideranças árabes, a partir das páginas de jornais.

 

(Figura 2 -  Enquanto um jato israelense corta a cena e lança mais bombas sobre palestinos, mortos nos escombros, e em uma pomba branca, demonstrando a impossibilidade de paz, Handala resiste.) (1982.)

 

Soberanias coloniais na Palestina gestam Israel

A criação do Estado de Israel foi oficializado em 1948. De acordo com pesquisadores como Edward W. Said (1992, 2007 e 2012), Norman G. Finkelstein (1995, 2003), Illan Pappé (2006, 2016) e Luiz Salgado Neto (2017), isso só foi possível através do sionismo: um projeto sócio-político, histórico e cultural, gestado por uma elite de homens europeus metropolitanos que buscavam, já no século XIX, liberta-se dos estigmas e perseguições européias de caráter violento às populações judaicas no continente, sem se desvencilharem dos benefícios de suas posições políticas, religiosas e econômicas. Diante da impossibilidade deste lar ocorrer na Europa o projeto formulou um imaginário para ligar os europeus de prática judaica ao projeto que teve como objetivo territorial a Palestina. Para que obtivessem êxito o projeto buscou, desde o início aliar-se a forças imperiais, em especial a Grã-Bretanha, sob supervisão da Liga das Nações e posteriormente também aos Estados Unidos da América para que a ocupação na Palestina fosse chancelada por soberanias políticas e militares ocidentais. Entre os marcos principais destacamos que o sionismo gestou uma ideia de renascimento nacional judaico pela possibilidade de libertação em inúmeras sociedades européias onde o projeto final de libertação consistiu-se em financiar e ter reconhecido um território (lar nacional) de maioria judaica. Deste modo é possível destacar que essa dupla investida permitiu a consolidação de um Estado europeizado, enquanto, concomitantemente, distanciava-se das populações nativas e seus representantes tradicionais.

 

“Entre o sionismo e o Ocidente havia e há uma comunhão de linguagem e ideologia; no que dizia respeito aos árabes, eles não faziam parte dessa comunidade. […] Os árabes e o islamismo representam o mal, o venial, a decadência, a luxúria e a estupidez no discurso popular e erudito. O sionismo, assim como seus mentores ideológicos ocidentais, tirou proveito dessa representação coletiva (…). Em primeiro lugar, os sionistas se consideravam um povo parcialmente “oriental”, que se emancipou dos piores excessos orientais pra explicar os árabes orientais ao Ocidente, para assumir a responsabilidade de expressar o que os árabes realmente eram e pretendiam, sem jamais permitir que se equiparassem a eles como presença na Palestina.” [SAID, 2012, p. 30]

 

Resultando neste axioma paradoxal: ao mesmo tempo que se decorre o reconhecimento seguido da institucionalização de um lar para as populações judaicas da região e emigradas (sobretudo da Europa), surgem também práticas de um Estado neocolonialista que regula a vida de seus habitantes, especialmente os nativos (de maioria árabe), por meio de normas com bases morais, políticas e jurídicas europeias, definindo assim distinções verticais entre diferentes sujeitos, seus imaginários e representações. Em suma, baseando-se na legitimação deste imaginário racional" que torna-se, segundo QUIJANO (2005) “…mundialmente hegemônica colonizando e sobrepondo-se a todas as demais, prévias ou diferentes, e a seus respectivos saberes concretos, tanto na Europa como no resto do mundo” [p. 126] foi possível realizar procedimentos de comparação, separação e classificação dos indivíduos, por exemplo, em relação à cor, práticas culturais ou origem geográfica da população, privilegiando assim, como o aporte teórico aponta, os colonos em detrimento das populações locais, sobretudo as árabe-palestinas. Essa encruzilhada é chamada de A Questão Palestina. No contexto em questão, estamos falando do aspecto imaginativo do Orientalismo que, ao mesmo tempo que estereotipa comunidades tão distintas, as totaliza diante de representações binárias e etnocêntricas. Ou seja: “os árabes" traduzem uma tecnologia geo-política, estética e do saber em que esses sujeitos, tornam-se, na lógica mesma destes marcadores - de base racista e colonial -  categoria humana menor, secundária, periférica e, muitas vezes representada como adversária, inimiga. Como aponta MBEMBE (2018) “mais do que pensamento de classe (…) a raça foi a sombra sempre presente no pensamento e na prática das políticas do Ocidente, especialmente quando se trata de imaginar a desumanidade de povos estrangeiros - ou a dominação a ser exercida sobre eles.”  [p. 18]

As referências demonstram como o colonialismo desenvolveu o orientalismo, este. utilizado também pelo movimento sionista conseguiu se traduzir sob o preceito positivo de modernidade/colonialidade ao mesmo que  reelabora representações dos palestinos entre os signos que vão do apagamento à barbárie. Mas, como aponta MIGNOLO (2020) ou FANON (2015) são faces de um mesmo desenho, de um mesmo projeto, que captura e produz tecnologias para controle sobre os corpos e sobre o saber, mas que agora, somam-se à política e geo-política para a institucionalização e capilarização da violência física ou epistêmica. Mas esta face propõe uma contraparte, que reside e resiste localmente ou em diáspora, e luta em frentes múltiplas, com armas que alimentam os sonhos e cultivam um imaginário partilhado pela tragédia e pela obstinação.

 

Resistindo à colonialidade com o ativismo em cartum: pensamento liminar a partir de Handala!

Como observamos, através das diversas dimensões da colonialidade, a ocupação na Palestina permitiu desenvolver uma série de tecnologias de controle, regulação e destruição, que possibilitou também ampliar as funções assassinas do Estado. Esse processo de desumanização atravessa todos os colonizados gerando a perda do lar, dos direitos sobre o próprio corpo, do status político (com Apartheid e limpeza étnica), bem como o ataque a seus bens simbólicos. Destitui-se assim o humano de sua humanidade, convertendo estes sujeitos em coisas. No entanto o colonizado não só percebe esse processo, ou o recebe com passividade, como também se organiza para superá-lo, seja por iniciativas que vão desde a mesma linguagem da violência colonial, seja na interação e na luta através do imaginário, utilizando táticas que subvertem (mas não totalmente) a lógica dos colonizadores, seus instrumentos políticos, costumes e suas tecnologias. Em especial, destaco aqui a capacidade da luta palestina resistir a partir dos cartuns, um gênero no liminar da arte e do jornalismo. Uma figura merece destaque pois adotou esse espaço com uma tática política distinta, conseguindo mobilizar críticas e inimizades, do colonialismo aos grupos e regimes árabes aliados da ocupação israelense e das metrópoles coloniais.

 

(Figura 3 - Handala é reconhecido por essa pose, quase sempre de costas para o leitor. Uma criança desprovida do básico, pão e terra. Cabelo eriçado, roupa remendada está sempre pés descalços, tocando nas fraturas de uma sociedade palestina fragmentada.) [s/d]

 

Handala, personagem criada por Naji al-Ali na década de 70, representa a experiência infantil da Nakba vivida pelo artista (a partir do Plano Dalet). Deste modo, se comunica com um imaginário social coletivo, que vai se constituindo com o passar das experiências trocadas entre a personagem e as lutas palestinas capturadas por seu autor. Rompendo com sua condição de expatriado, e com o puro mundo das coisas, ele foi capaz de demonstrar as mais diversas relações humanas palestinas em cerca de 40.000 criações e publicações de seus cartuns. O nome da personagem faz referência a um fruto que sobrevive em condições extremas de vida, bastante amargo e de raízes profundas, muito comum desde o norte de África até a região do levante. De acordo com Audria Albuquerque Leal (2010), os cartuns são um gênero jornalístico contendo, geralmente, três elementos essenciais: imagem, humor e temas sociais e políticos, sendo o primeiro, a matriz artística, determinante para se compor este gênero. Destacamos também que esses cartuns fazem um duplo movimento, como aponta MIGNOLO (2020) em relação ao pensamento liminar, fazer a denúncia ao sistema mundial moderno, seus agentes e dicotomias, e constrói alternativas tanto dentro quanto fora desse sistema. De acordo com Joe Sacco, “…desenhando para o jornal as-Safir, Naji al-Ali colocava Handala no fundo dos cartuns, observando não só as cenas de opressão e violência de Israel, mas também as de corrupção e desigualdade dos árabes. Qualquer um que tratasse com arrogância os oprimidos do Oriente Médio se tornava alvo de al-Ali.(...)Talvez por essa razão Handala tenha sido afetuosamente aceito como símbolo pelos palestinos mais pobres; ele os fazia lembrar-se de si próprios- destituídos, desprezados, os órfãos do Oriente Médio.” [2011, p. 10]

Os cartuns políticos de al-Ali, enunciam para tensionamentos culturais, sociais, econômicos, políticos, midiáticos etc. Ou seja, podemos verificar que sua produção plástica ocupa dialogicamente uma das possibilidades insurgentes da resistência árabe-palestina, local diante dos diferentes dispositivos de poder, frente aos projetos históricos locais, mas também em relação às forças transnacionais, ao mesmo tempo em que negocia e desvela (ou cria), outros espaços imaginários de enunciação. Handala se apresenta subvertendo o exercício do poder hegemônico pois, através do gênero cartum ou da apropriação e circulação de sua imagem - por exemplo, nos muros de Gaza, Cisjordânia, campos de refugiados e prisões israelenses - carrega uma mensagem poderosa que difere da mensagem dominante, fogem ao seu controle, o saber científico não a apreende totalmente, a mensagem transgressora caminha pelos túneis abaixo da vigilância, do controle e da cova. De acordo com SONTAG (2003) imagem é possuidora de uma língua que se destina potencialmente a todos.

Deste modo, a imagem de Handala acessa os sujeitos sobreviventes do mundo colonial ou da colonialidade, e fortalece a perspectiva de insurgentes. Sobretudo, Handala, que representa a luta por liberação no confronto aos espaços de morte, mas também acessa espaços de resistência e sobrevivência, especialmente se pensarmos que, a partir da morte de seu criador, as tentativas de controle sobre a morte de uma nação (Palestina) não impediram que a personagem fosse esquecida, pelo contrário. Podemos visualizar isso quando o personagem segue sendo recriado em outros gêneros, linguagens e espaços, tomando formas diferentes para enunciar a indignação e a luta obstinada pela liberdade.

Fato é que, hoje, a região é lugar onde dois povos possuem suas vidas ligadas - mas não iguais - unidas por histórias distintas da História, guerras míticas e políticas,  relações de saber e poder, onde os contatos e as fronteiras entre vida e morte se dão diariamente pelas (re)existências imbricadas que, entre outros aspectos, vão de sagrados milagres” às tragédias humanas sofridas pelas filhas e filhos de Abraão que não nasceram no Ocidente.

 

(Figura 4 - Manifestantes protestam enquanto jovens soldados israelenses fazem a ronda. Civis aguardam notícias de amigos e familiares palestinos presos por Israel. Handala, no fundo, no centro da imagem, concatena a postura austera de indignação e denúncia, nos convidando a olhar para o Apartheid sofrido pelas populações palestinas).

 

Diante do exposto, talvez o papel dos cartuns políticos supere as pedras nas mãos das crianças palestinas, enquanto a necropolítica ceifa as vidas e continua a tesourar a dignidade  das populações árabe-palestinas. O que fica é a importância das linguagens ante a desumanização, que articulam-se entre si em um esforço ativo, opostas à mansidão, à subalternidade e aos diversos tipos de controle de seus corpos físicos e sociais. Crianças palestinas também lutam por mudanças, de modo que, a cada novo dia - ou outro corpo na cela, ou abatido no chão - se desvelam as cortinas de insustentabilidade de negar aos povos originários o direito à vida, à infância e à terra. O direito à autoria da própria libertação.

 

Referências

Israel Zayed é arte educador e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais pela Universidade Federal de mato Grosso do Sul (2020-2021). Especialista em Relações étnico-raciais, gênero e diferenças no contexto do ensino de história e culturas brasileiras. Graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017). Este trabalho é um fragmento da dissertação em andamento, esta, conta com apoio da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (FUNDECT).

Imagens
AL-ALI, Naji, Uma criança na Palestina / os cartuns de Naji al-Ali ; introdução  de Joe Sacco ; trad. Rogério Bettoni. -  São Paulo : Martins Martins Fontes, 2011

FANON, Frantz. Os condenados da terra/ trad. Enilce Albergaria Rocha, Lucy Magalhães - Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2005.

FINKELSTEIN, Norman G. Imagem e realidade do conflito Israel-Palestina; trad. Clóvis Marques. - Rio de Janeiro: Record, 2005.

LEAL, Audria Albuquerque. O papel do discurso teórico nos Cartoons. Estudos Linguísticos, v. 5, n. 223-234, 2010.

MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: N-1 edições, 2018.

MEMO; Monitor do Oriente Médio. Mais de 400 crianças foram detidas por Israel desde o início de 2020. Disponível em: < https://www.monitordooriente.com/20201120-mais-de-400-criancas-foram-detidas-por-israel-desde-o-inicio-de-2020/ >

MEMO; Monitor do Oriente Médio. Haaretz aponta aumento de 50% nas dispensas do Exército por doenças mentais. Disponível em: < https://www.monitordooriente.com/20201128-haaretz-aponta-aumento-de-50-nas-dispensas-do-exercito-por-doencas-mentais/ >

MEMO; Monitor do Oriente Médio. Increasing number of Gaza's children need mental health support, UNICEF says. Disponível em: < https://www.middleeastmonitor.com/20210526-increasing-number-of-gazas-children-need-mental-health-support-unicef-says/ >

MIGNOLO, Walter D. Histórias locais/ projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar; trad. Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2020

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

SALGADO NETO, Luiz. O movimento político árabe na palestina sob controle britânico culturas políticas em perspectiva comparada (1929-1937). Tese defendida no Programa de pós-graduação stricto sensu em Hisória, Rio de Janeiro: UFRJ, 2017.

SAID, Edward Wadie. A questão da palestina; trad. Sonia Midori. - São Paulo: Ed. Unesp, 2012.

SAID, Edward Wadie. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente; tradução Rosana Eichenberg. - São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. Editora Companhia das Letras, 2003.

TOTRY, Mary; MEDZINI, Arnon. The use of the cartoons in popular protests that focus on geographic, social, economic and political issues. European Journal Of Geography, v. 4, n. 1, p. 22-35, 2013.

6 comentários:

  1. Felicito o autor Israel Zayed, pelo ótimo artigo, cujo titulo é “Handala, na luta contra a ocupação: o projeto colonial e a luta pela libertação através do cartum político palestino”, que traz uma abordagem acerca de Israel, considerado o único país do mundo a processar crianças rotineiramente em tribunais militares que carecem de salvaguardas básicas para um julgamento justo. Além disso, as crianças palestinas detidas por Israel enfrentam abusos e tortura sistemática, legitimados pelo judiciário e pelo governo. Assina Francielcio Silva da Costa.

    De que forma podemos relacionar o sionismo com a criação do estado de Israel?

    Me fale a respeito do personagem de Handala?

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    1. Francielcio Silva da Costa, muito grato pela atenção dada à comunicação exposta. Agradeço também pelas perguntas, e irei respondê-las em duas etapas. Esta aqui, dedicada a primeira pergunta.
      Pois bem, utilizando parte da bibliografia apresentada, em especial as reflexões de SALGADO NETO (2017) E SAID (2012) o sionismo se propunha a ser um movimento de emancipação e libertação das comunidades judaicas no continente europeu. Com a impossibilidade deste esforço se concretizar no que hoje entendemos como solo europeu, o movimento foi gradativamente ganhando outras leituras e objetivos ao longo de seu percurso histórico, em especial entre o final do século XIX e XX, quando a Palestina tornou-se foco desta investida. Os marcadores da criação para o estado de Israel se deram no entendimento interpessoal, político e jurídico do imperialismo britânico e seus agentes junto das lideranças masculinas desse revisionismo judaico, que conhecemos como sionismo. Ao longo dos anos essa parceria foi sendo construída desde a subjetividade (ex: o ideal de resgate místico, origial) e da percepção de uma identidade ambivalente (europeus-judeus), mas também na perspectiva da geopolítica britânica em função de criar territórios seguros que possibilitasse rotas (através de ocupação colonial) até os domínios da coroa britânica na Índia. Deste modo, no bojo dessas relações (império britânico e movimento sionista) foi-se configurando também a ideia de um identidade nacional judaica para construir uma aliança aos interesses colonais, que se transformou (com o cenário das perseguições sofridas na europa pelas comunidades judaicas) de um movimento com intenção da criação de um estado nacional de maioria judaica para um estado nacional reconhecido política e juridicamente por potências coloniais (Império Britânico e posteriormente, Liga das Nações e Organização das Nações Unidas).

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    2. A segunda pergunta se relaciona em paralelo a primeira pois, a terra objetivada para a nova nação euro-judaica, já estava habitada, em sua maioria por populações árabes que se identificavam e viviam a séculos no território da Palestina. Como o projeto sionista tinha objetivo criar um território nacional judeu, o que se deu e se dá é um regime de ocupação colonial seguido de um programa de apagamento, expulsão e limpeza étnica. Nesse sentido, a limpeza se constitui como um processo violento, de ocupação militar, ataques, expropriação, destruição de bens simbólicos, culturais e morte. Handala surge dessa experiência, quando o artista palestino Naji al-Ali, com cerca de 10-11 anos e sua vila (al-Shajara) são atacados e levados a expulsão pelas milícias israelense (Brigada Golani) em 1948. Essa experiência junto ao exílio no campo de refugiados ao sul do Líbano é que possibilitou a tradução da memória, dos afetos e do cotidiano na forma dos personagens em cartum. Handala é o personagem mais conhecido do chargista. É, antes de tudo, uma criança pobre, refugiada que está em exílio, ou seja, não consegue voltar para sua terra natal (Palestina). Seu nome alude à uma planta frutífera da região, com raízes extensas, que nasce em solos áridos e produz frutos amargos. O personagem, um garoto descalço, de cabelos eriçados e roupa remendada traduz ao mesmo tempo a memória da expulsão, a força de resistir sobre condições adversas e à esperançar no sentido de lutar para voltar a plantar os pés na Palestina. Handala não quer voltar sozinho, nem se permite esquecer do passado e do presente, o que casa super bem com a proposta dos cartuns políticos. Suas tiras buscam denunciar a violência contra as camadas mais humildes da população e com o passar do tempo acabou não somente representando a luta popular palestina mas as lutas enfrentadas entre populações de identidade árabe da região, os jogos de poder, seja na crítica ao estado de Israel, as investidas estrangeiras, o apagamento dado a história palestina ou as críticas das lideranças árabes e outras lideranças palestinas coniventes com o regime de violência através das políticas e tecnologias de morte. Entre a década de 60 e 80, foram produzidos centenas de cartuns. Após a morte do cartunista, a personagem segue presente nas manifestações civis, acadêmicas e políticas para denunciar os crimes sofridos pelas populações árabes palestinas: seja ao território, a perca dos direitos jurídicos e políticos, de segurança alimentar e da condição de desumanização desses sujeitos do "Oriente Médio", bem como ressalta para a continua luta de Handala e as comunidades em diáspora pela libertação e a partir de "vozes" palestinas.

      Espero ter contribuído com seus questionamentos Francielcio.
      Me coloco à disposição para quaisquer outros esclarecimentos.

      Abraços fraternos!

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  2. Primeiramente gostaria de comentar que a leitura do seu texto foi bastante enriquecedora para mim. Infelizmente a mídia tradicional informa pouco e/ou mal a respeito da questão palestina. Além disso, por ter crescido e passado bastante tempo sob os ensinamentos teológicos cristãos, tenho percebido em mim uma visão distorcida da questão (ainda bem que sempre há tempo para rever conceitos e refazer caminhos).
    Ao longo da leitura, foi inevitável para mim traçar um paralelo com a questão das pessoas pretas em nosso país que, assim como os povos palestinos, são executadas apenas por serem quem são. Diariamente são noticiadas execuções de milhares de Marieles, João Pedros, Sofias, Miguéis. Pessoas que tiveram suas vidas covardemente abreviadas e que têm em comum a cor da pele.
    Assim sendo, gostaria de perguntar quais outros paralelos você acha possíveis de serem traçados a partir da questão palestina, visto que, aparentemente, mudam-se os personagens, mas o roteiro é sempre o mesmo: a de uma pseudo-superioridade autodeclarada de determinado povo, que “demoniza” um grupo e o toma como algoz, alvo a ser abatido, apenas por existir.

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    1. Mayara Monteiro, obrigado por seu comentário. Fico feliz em saber que a comunicação contribuiu para ti e sua leitura de mundo. Como não é possível responder tudo em uma caixa de resposta, peço licença para ampliar minha fala dando atenção a sua pergunta complexa e propositiva.
      Sobre a questão da mídia (seus especialistas e as representações das outras populações) é um campo importantíssimo de se discutir e muito caro para mim, pois venho das artes visuais com uma perspectiva situada da arte, social e crítica. Na comunicação eu não consegui ampliar tanto a discussão para lidar com a representação construída pela mídia mas existem autores que utilizo em minha dissertação que lidam com essa questão, em específico, Noam Chomsky (2013), o próprio Edward Said (2012; 2007; 2003) e Lilia Moritz Schwarcz (2014). Sobre as populações árabes e árabes palestinas é importante retomar o conceito de orientalismo, que podemos traduzir como a ciência e tecnologia da leitura e representação que as populações europeias fizeram sobre outras populações do Oriente Próximo, Oriente Médio ou Extremo Oriente. Deste modo, interagindo com o que vocês disse acima, muito do que temos no nosso imaginário derivam dessas representações. Ou seja, geralmente as pessoas conhecem as populações árabes, ou árabes palestinas através de mediadores, suas mídias e linguagens (literatura; cristianismo de base européia italiana, anglicana ou germânica; filmes; jogos; quadrinhos ou constantemente no jornalismo feito no Oeste Europeu, Estados unidos ou aqui no Brasil) Claro, é importante se informar, mas é fundamental buscar outras fontes com bases teóricas e culturais diferentes.

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    2. Quero parabenizar pois você estabeleceu relações muito importantes aqui. Sei se o contexto cultural local é diferente, mas há um marcador importante que é a violência derivada da colonização e da modernidade. No Brasil, na América Latina e nas colônias em África a ocupação, domínio e ocupação violenta ocorreu antes, como aponta Mignolo (2020). Mas aqui no Brasil, para criar um paralelo com a Palestina o que houve e há é desumanização aos povos originários. Tanto que as gerações posteriores seguem marcadas pela desigualdade, só que agora não mais pela igreja ou pela coroa, mas pelo estados nação e as estruturas de poder que podem se traduzir pela força bruta, no campo da política e na colonialidade do poder, do saber e do ver. Pra deixar isso mais claro, é possível compreender que o racismo não é só a violência aos corpos de pessoas pretas ou indígenas. A violência física pode ocorrer ainda mais intensamente se você vive em uma condição sócio-econômica de miséria, por ser mulher, pessoa com deficiência, idoso, com sexualidade divergente ou outra característica expressa no seu corpo ou em suas práticas culturais, e as vezes ela é motivada pelas representações, pelos estereótipos.
      Uma das chaves de leitura crítica para o que você está dizendo se encontra no conceito de diferença colonial que foi construída a partir da colonização e constantemente reformulada pela colonialidade. Ou seja, quanto mais diferente ou distantes formos nós ou nossas práticas dos referenciais europeus, calcazianos, religiosos, econômicos, midiáticos, quanto mais nossa relação com a natureza e seus recursos são de responsabilidade, ou mesmo nossas formas de culto ou de amar (a sí e ao outro ser humano) fogem do que aprendemos como "normal" mais vamos encontrar as redes culturais, artísticas, científicas, históricas e políticas que nos aprisionam. Nem tudo é ruim ou negativo, de fato, e nem todos sofrem ou sofrerão do mesmo tipo de violência, contudo, os processos de diferenciação e de desigualdade foram potencializados no encontro, controle e exploração de comunidades com universos diferentes a partir da colonização e dos regimes coloniais. Às populações originárias na palestina não foi concedido o seu direito a autodeterminação pois não fazia sentido para seus dominadores aquela perspectiva de sociedade. Há uma relação geográfica do poder também, sobre quem mora nos centros econômicos e nas periferias, e claro, é impossível falar de Brasil e da Palestina sem falar de racismo estrutural.
      Aproveitando, vou deixar um link de uma comunicação que eu tratei no Youtube com professores e estudantes do ensino médio sobre as representações árabes e os estereótipos.

      https://www.youtube.com/watch?v=NejgGCbIy3I&t=357s

      Espero que tenha conseguido contemplar seu questionamento Mayara
      E me coloco à disposição para outras dúvidas.

      Abraços fraternos!

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