Felipe Ruzene

 VINHO E VINICULTURA NO ANTIGO EGITO


Introdução

O Egito é uma nação do Norte de África com caracteres profundamente mediterrâneos [Cf. BAKOS, 2001, p. 11-16]. Um exemplo bastante notável desta relação entre egípcios e mediterrânicos é a paixão pelo vinho, algo ainda pouco disseminado, visto que o Egito é conhecidamente a nação da cerveja. De fato, o fermentado de cevada parece ter sido a bebida mais consumida entre os egípcios [PETRUSKI, 2015, p. 154], mas a antiga nação faraônica se mostrou fundamental para a difusão e consolidação da viticultura e enologia na antiguidade. Suas práticas e métodos foram tão relevantes que sobrevivem até a atualidade e permanecem ativos entre alguns dos principais produtores de vinho do mundo contemporâneo [CARLAN, 2012, p. 86]. Embora o vinho já existisse na Mesopotâmia e no Oriente, a vinicultura se desenvolveu, em termos tecnológicos e práticos, mais profundamente no Egito [AMUI, 2007, p. 12] e, posteriormente, na Hélade e em Roma (que muito usufruíram dos conhecimentos enológicos desenvolvidos pelos egípcios). Este texto tem por finalidade introduzir as temáticas do consumo e fabrico do vinho no Egito Antigo, observando a complexidade e pluralidade dos mecanismos utilizados pelos produtores egípcios e compreendendo a importância da vinicultura nesta sociedade. Assim, evidenciar-se-á que: “O vinho era parte integrante da cultura dos antigos egípcios que podem ser considerados por esse motivo, a primeira civilização vinícola da história” [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 142].

 

Origens e consumos no Egito

Abordar as origens da viticultura é expor incógnitas, afinal muitos pesquisadores afirmam a impossibilidade de sabermos quais os primórdios das vinhas [BAKOS, 1994, p. 66]. Há autores que defendem a ideia de que o vinho pode ter sido a primeira bebida alcóolica conhecida pelo ser humano [GUARINELLO, 1997, p. 275], porém, outros atribuem este título à cerveja ou ao hidromel [REGINA, 2017, p. 94]. Luísa Valduga [2016] assegura que o mais presumível é que a descoberta do vinho tenha ocorrido em diversos momentos e lugares, ainda (como ratificam diversos historiadores), crê na possibilidade de que as primeiras taças de vinho tenham surgido ao acaso [REGINA, 2017, p. 94]. Os paleontólogos descrevem que a espécie vitis vinífera (cepas responsáveis pela produção dos chamados vinhos finos) desenvolveu-se ainda na Era Cenozoica, durante o período terciário (algo entre 65 milhões e 2,6 milhões de anos atrás), e a partir deste momento se dissipou por todo o hemisfério norte [CARLAN, 2012, p. 86]. Mu-Chou Poo [1995, p. 5] sugere em sua tese que a domesticação da uva tenha ocorrido por volta de 8000 AEC na região que hoje se estende do Turquestão, ao sul do Cáucaso na Ásia Menor, até o interior da Trácia. Justamente desta região, afirma o autor, teriam saído as práticas de viticultura que ingressaram no Egito ainda durante o pré-dinástico [BAKOS, 1994, p. 66].  As uvas têm sua presença marcada em solo egípcio entre 4000 e 3500 AEC, em sítios arqueológicos como o Tell Ibrahim Awad e Tell el-Fara’in, os dois no Delta do rio Nilo [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 142]. Convém ressaltar o fato de que as uvas não são nativas do Egito, mas já eram cultivadas por lá desde o pré-dinástico, o que comprova o quão antigo é o conhecimento a respeito do vinho e do plantio das bagas [GUARINELLO, 1997, p. 276]. Ao longo do período faraônico definiu-se a palavra “irp” para designar o vinho. Segundo Poo [1995, p. 21], não existe uma explicação etimológica definitiva para o termo, mas parece ter sido gerada a partir de uma concatenação com a palavra “rp” que significa podre. O que demonstra satisfatório nexo, afinal o vinho é produto de uvas “podres”, ou (para fazer uso de termo mais enológico) bagas fermentadas. No período ptolomaico novos termos surgiram como forma de se referir ao vinho, vocábulos que conhecemos a partir das liturgias de oferendas e cenas de oblações inscritas nas paredes dos templos [POO, 1995, p. 21-22]. Ainda sim o termo “irp” (representado por duas ânforas, como aquelas utilizadas para o armazenamento da bebida) permaneceu presente, inclusive no Demótico e no Cópita [BAKOS, 1994, p. 66].

Não obstante, o vinho no Egito se limitou, quase exclusivamente, a ser consumido: “pelas classes elevadas da sociedade e pela família real, tal como ficou plasmado na decoração das sepulturas privadas do Reino Novo, como a de Nebamun em Tebas” [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 141]. De fato, como já é bem difundido, a cerveja foi a bebida mais disseminada na antiga sociedade egípcia. Sobretudo porque, ainda que desejassem, os grupos sociais menos abastados dificilmente obtinham acesso aos vinhos, seu preço circulava entre cinco e dez vezes superior ao da cerveja [PETRUSKI, 2015, p. 154]. Assim, sacerdotes e soldados até poderiam receber vinhos como pagamentos, mas raramente tal produto chegaria aos trabalhadores civis, agricultores, pastores, artesãos e serviçais domésticos. Heródoto [1985, p. 112 apud BAKOS, 1994, p. 66], quando no Egito, ratificou que o hábito mais comum era o de se consumir um: “vinho de cevada”, pois o vinho de uvas era direito limitado a alguns. Contudo, os gregos e romanos não apreciavam a cerveja que consideravam, como enunciou Tácito, uma bebida de bárbaros [REGINA, 2017, p. 95]. Assim sendo, o vinho era artigo de luxo no Antigo Egito, onde se estratificava, não muito diferente do modelo contemporâneo, as bebidas que cabiam aos indivíduos de posses e não aos trabalhadores [CARLAN, 2012, p. 86]. Ao que tudo indica, um dos poucos momentos em que esse padrão se alternava era durante as festividades de Bastet, nas quais os vinhos eram liberados a todos os integrantes - aproximadamente setecentas mil pessoas de ambos os sexos, sem contar as crianças, em contagem de Heródoto [PETRUSKI, 2015, p. 154]. Ainda, segundo Heródoto: “É consumido mais vinho neste festival do que no resto do ano inteiro” [1993, p. 60 apud GIESTA, 2019, p. 123]. Isto porque, segundo a religião egípcia, Bastet (a versão mais mansa da deusa felina Sekhmet) havido sido domada pelo poder milagroso e embriagador do vinho. Sekhmet foi induzida a beber vinho, segundo o mito os deuses transformaram cerveja em vinho para que sua coloração fosse feita semelhante ao sangue humano e confundisse a felídea deusa. Amansada e ébria a grande leoa sanguinária se recolheu às margens do Nilo, e, ronronando e espreguiçando, transformou-se na dócil gata Bastet [GIESTA, 2019, p. 68]. Por este motivo, apesar do deus egípcio do vinho ser Osíris, a bebida era elemento fundamental nas festas de Bubástis (dedicadas a Bastet), uma vez que a deusa passou a congregar elementos de soberana: “dos festivais, da embriaguez, da maternidade, da sensualidade e das artes em geral” [PETRUSKI, 2015, p. 150], tornando-se a: “senhora do vinho” da antiga religião faraônica [GIESTA, 2019, p. 128]. Notável que os egípcios já abordavam, com extrema seriedade, a ebriedade e os problemas que poderiam decorrer do consumo excessivo de vinho (aliás, tais preocupações parecem recorrentes em quase todas as culturas humanas) [AMUI, 2007, p. 66].

A bebida era oferecida pelos sacerdotes, ou mesmo pelo próprio Faraó. Em rituais nos templos e em certas festividades, como a coroação ou o ano novo, era cedida como representação do poder da família real [POO, 1995, p. 51-54]. O vinho, acima de tudo, possuía caracteres metafísicos e estava fortemente relacionado com a religiosidade egípcia [CARLAN, 2012, p. 86], por este motivo era ofertado aos mortos para consumo além-vida e, a partir da 5ª Dinastia (2450-2325 AEC), passa a compor a lista de ofertas funerárias descritas nos Textos das Pirâmides, além de ser a mais notável bebida do Faraó no pós-morte [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 141]. A íntima relação entre vinho e religião se dava pela crença egípcia de que a transformação do mosto de uva em bebida alcóolica era inspirada pelo deus Osíris, que havia regalado o vinho aos homens. A posteriori, os helenos atribuíram tal bênção a Dioniso, e os romanos, a Baco [QUEIROZ, 2010]. Em 1860, o microbiólogo Louis Pasteur demonstrou cientificamente que a fermentação era promovida pelas células de levedura, não por divinas ações [PANEK, 2003, p. 62]. É importante destacar que o conhecimento que temos hoje a respeito da alimentação dos egípcios na Antiguidade se deve muito pelo significativo acervo de textos e imagens gravadas nas paredes dos templos e tumbas, e pelas evidências arqueológicas sobreviventes das oferendas cedidas aos mortos [GRALHA, 2012, p. 97]. Há vestígios de vinho dadivado aos finados, mesmo no período Pré-Dinástico, em túmulos como os encontrados nas necrópoles reais de Abidos e Saqqara, as bebidas eram dispostas em jarras de cerâmica com até um metro de altura, tampadas com barro e com estampa do selo real [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 142]. Cenas cotidianas representando a viticultura e enologia egípcias foram retratadas em paredes de sepulturas privadas desde o Reino Antigo (2575-2150 a.C.) até o período Greco-Romano e tardo-antigo (332 a.C.-395). Assim, a arte evidencia como o processo de elaboração do vinho no Antigo Egito era bastante similar ao célebre método tradicional europeu, utilizado até os dias atuais [AJZENBERG, 2013, p. 81]. Emprestando noções do estudo empreendido por Francis Joannes [1998] sobre a alimentação na Antiga Mesopotâmia, podemos afirmar que, no Egito, a cerveja se destacava no banquete particular (ainda que se fizesse acompanhada do vinho, caso os anfitriões pudessem arcar com tal despesa), enquanto o vinho possuía papel fundamental no banquete real e no banquete religioso [Cf. GRALHA, 2012, p. 98]. Outro uso primordial que os egípcios tinham para o vinho era a aplicação médica. Aliás, o primeiro escrito que trata do uso medicinal do vinho vem da cidade de Nippur, cerca de 2000 AEC, fazendo referência a unguentos fabricados na Suméria (à base de vinho), para o tratamento de dermatoses [FERREIRA, 2004, p. 49]. A bebida foi utilizada para uma série de terapêuticas, buscando o combate à asma, icterícia, obstipação intestinal, e epilepsia. Para tanto era misturado com um preparado nomeado kyphi - um composto de resinas, ervas, especiarias e até pelo de burro e excrementos de pássaro. Segundo o médico José Ferreira [2004, p. 49-50], isso se devia a crença de que muitos males físicos advinham de forças funestas que possuíam o paciente e que poderiam ser expulsas caso o corpo se tornasse inabitável, por isso utilizavam tão asquerosas substâncias.

 

Vinicultura: o fabrico do vinho egípcio

Segundo os métodos enológicos a produção de um bom vinho está condicionada a caracteres geográficos, como terroir (solo), índice pluviométrico, incidência solar e temperaturas adequadas [AJZENBERG, 2013, p. 81]. Segundo Cláudio Carlan [2012, p. 83], no hemisfério Norte as uvas podem madurar naturalmente, entre os paralelos 30º e 50º, o que coincide com uma região entre Marrocos e Egito, pelo sul, até a França, pelo norte. Nas condições adequadas o mosto da uva entra em fermentação, produzida pelas leveduras, que transmutam os açúcares das bagas em álcool etílico e anidrido carbônico. Quando corretamente composto o vinho terá equilíbrio entre acidez, açúcar e taninos [AJZENBERG, 2013, p. 82]. Em vista do delicado processo de produção do vinho, e sendo uma bebida destinada à nobreza, era preparado com extremo cuidado pelos produtores egípcios que, por vezes, demoravam mais de um mês em seu fabrico [CARLAN, 2012, p. 83]. Portanto, apesar do vinho não ser um produto oriundo do Egito, a viticultura e a vinicultura foram amplamente desenvolvidas pelos antigos egípcios, tanto em termos práticos quanto tecnológicos [AMUI, 2007, p. 12]. Graças aos vestígios arqueológicos, em especial aqueles encontrados por Howard Carter na tumba de Tutankhamon [REGINA, 2017, p. 95], sabemos que a antiguidade produziu uma grande diversidade de vinhos: tintos e brancos, baratos e caros, abundantes e escassos em qualidade, doces e secos, tratados e até adulterados [GUARINELLO, 1997, p. 277]. Das oito ânforas encontradas na sepultura do faraó, duas continham resíduos de vinho tinto, cinco de vinho branco e uma de Shedeh (uma qualidade distinta de vinho que se pensava ser feito com romãs, mas os estudos provaram ser, na realidade, produzidos com uvas tintas) [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 147-148]. Assim, concluímos que no mínimo três variedades de vinhos eram produzidas no Egito: tinto, branco e shedeh. Interessante notar que, a partir do Reino Novo, as jarras e ânforas de vinho passaram a ter inscrições bastante detalhadas, como o ano de produção, tipo de produto (irp ou shedeh), origem geográfica, propriedade produtora e o nome do enólogo responsável pelo fabrico [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 144]. Por vezes ainda trazia comentários do produtor a respeito daquela bebida, como propaganda, ou o selo de indicação da família real para aqueles rótulos que compunham a “adega” do faraó [REGINA, 2017, p. 95]. Estes padrões de rotulação das embalagens de vinho se mostram bastante semelhantes às normativas atuais impostas por legislações da União Europeia.

As vinhas egípcias eram cultivadas, originalmente, avizinhadas ao Nilo, em área protegida da inundação anual do rio. Posteriormente passaram para os Oásis do deserto ocidental e para o Vale do Nilo [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 145]. O processo de vindima (colheita das uvas) começava nos finais do mês de julho, época de cheia do Nilo, na qual o rio ganhava tons avermelhado devido à grande concentração de sedimentos ferruginosos oriundos da região de Atbara. Para os egípcios este fenômeno possuía relação mitológica com o sangue do deus Osíris, que havia sido lançado morto ao Nilo [QUEIROZ, 2010]. Este fato, atrelado à iconografia que representa uvas negras, levou diversos pesquisadores a imaginarem que o vinho produzido no Egito era, tão somente, tinto [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 146]. Ainda sim, a imagética egípcia é a principal fonte para compreendermos as etapas de preparação da bebida, conforme vislumbramos a seguir:

 

Fig. 1 – Iconografia das etapas de produção do vinho representadas na tumba de Amenemhat II em Beni Hassan, 3º faraó da XII Dinastia (1938-1775 AEC). Fonte: FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 144.

 

Após a colheita das uvas, representada no primeiro quadro à esquerda, efetuavam a prensa inicial, realizada a pés descalços. Um exemplo da engenhosidade dos antigos é a barra horizontal utilizada para auxiliar os trabalhadores a manter o equilíbrio enquanto pisavam as suculentas bagas [QUEIROZ, 2010]. Em um terceiro momento havia a extração do sumo de uva utilizando uma lona de linho retesada sobre uma armação de madeira, seguida por uma nova prensagem feita à mão [VALDUGA, 2016]. À direita, na parte superior da imagem, um escriba registra a contagem dos cestos de uva que, a posteriori, é disposta em ânforas e tampados com barro para evitar a oxidação – convém ressaltar que o uso de ânforas de barro vem sendo reutilizado por diversos vinicultores atuais, especialmente na região do Alentejo, em Portugal, onde são chamados “vinhos da talha” [REGINA, 2017, p. 95]. No último quadro à direita, cabras se alimentam e simultaneamente limpam as vinhas, reiniciando o ciclo [FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 144]. Assim, podemos observar que a sistemática utilizada pelos egípcios para a produção de vinho na antiguidade inaugurou as bases dos métodos que os enólogos usam ainda na atualidade. Um bom exemplo do conhecimento avançado dos antigos é quanto ao potencial de guarda dos vinhos. Os vinhos mais leves eram guardados para fermentar por um curto período, enquanto os mais alcoólicos passavam por longos intervalos de fermentação, podendo ser aquecidos para aceleração deste processo [VALDUGA, 2016]. Também, os egípcios costumavam produzir fermentados com outras frutas, como figos ou tâmaras. Reza a lenda que Cleópatra era uma grande fã dos vinhos feitos com tâmaras. Atualmente, por lei, vinho é unicamente a bebida proveniente da fermentação de uvas, aquelas originadas por quaisquer outras frutas devem receber nomes específicos [PANEK, 2003, p. 63].

 

Considerações finais

Em síntese, o vinho faz parte das culturas humanas desde os primeiros registros históricos das mais antigas comunidades [AJZENBERG, 2013, p. 80]. Esteve associado com a religião, status e hierarquia social, medicina e economia, sendo elemento basilar do estilo de vida mediterrâneo. Esta bebida deixou profundas marcas em todas as dimensões da antiguidade [GUARINELLO, 1997, p. 277]. Heródoto, em 445 AEC, descreveu certos vinhos egípcios como: “narcóticos, brancos, excelentes, agradáveis, fragrantes, delicados, e que não chegavam à cabeça” [REGINA, 2017, p. 94]. Sem sombra de dúvidas resenha digna de um sommelier contemporâneo. Assim, o Antigo Egito, além de um povo de célebre história, tornou-se uma sociedade de complexa vinicultura e grandes vinhos. Graças às técnicas da antiguidade, aperfeiçoadas, por monges, sobretudo os beneditinos, durante a Idade Média e, posteriormente, com assimilação das tecnologias modernas, é que possuímos as várias técnicas enológicas da atualidade. Deste modo, contemplamos que o vinho ia muito além do beber na sociedade egípcia, deixando de ser mero alimento de subsistência e aderindo ao papel de elemento sócio-cultural para todo o Mediterrâneo Antigo.

 

Referências bibliográficas

Felipe Daniel Ruzene é graduando em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Bacharelado em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano (BAT). Formado pelo Colégio Técnico Industrial de Guaratinguetá da Universidade Estadual Paulista (CTIG/UNESP) e pela Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAr), atualmente é Controlador de Tráfego Aéreo. E-mail: felipe.ruzene@ufpr.br

 

AJZENBERG, Elza. “A arte e o vinho” in Revista USP, n. 96, Dez-Fev, 2013, p. 79-88.

AMUI, Juliano Maluf. Vinho: uma imagem arquetípica. Dissertação: (Mestrado em Psicologia clínica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 128 p., 2007.

BAKOS, Margaret Marchiori. Fatos e mitos do Antigo Egito. Porto Alegre: EdiPUC-RS, 1994.

CARLAN, Cláudio Umpierre. “Vinho: Comércio e Poder no Mundo Antigo” in CANDIDO, Maria Regina (Org.). Práticas Alimentares no Mediterrâneo Antigo. Rio de Janeiro: NEA/UERJ, 2012, p. 83-96.

FERREIRA, José Carlos Torres Dias. “O vinho e a medicina” in Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba, v. 6, n. 1, 2004, p. 49-52.

FONSECA, Sofia; JANÉ, Maria Rosa Guasch; IBRAHIM, Mahmoud. “O vinho no Antigo Egito: uma história mediterrânea” in Revista Mundo Antigo, v. 1, Jun, 2012, p. 139-155.

GIESTA, Eugénio José Castro. Bastet e Sekhmet: aspectos de natureza dual. Dissertação: (Mestrado em História Antiga) – Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa. Lisboa, 184 p., 2019.

GRALHA, Julio Cesar. “Abordagem Sócio-Cultural da Alimentação no Egito Antigo: Quando Comer e Beber Não é Somente Beber e Comer” in CANDIDO, Maria Regina (Org.). Práticas Alimentares no Mediterrâneo Antigo. Rio de Janeiro: NEA/UERJ, 2012, p. 97-108.

GUARINELLO, Norberto Luiz. “A civilização do vinho: um ensaio bibliográfico” in Anais do Museu Paulista, v. 5, Jan-Dez, 1997, p. 275-278.

JOANNÉS, Francis. “A função social do banquete nas primeiras Civilizações” in FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo (Org.). História da Alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998, p. 54-67.

PANEK, Anita D. “Pão e vinho: a arte e a ciência da fermentação” in Revista Ciência Hoje, v. 33, n. 195, 2003, p. 62-65.

PETRUSKI, Maura Regina. “Para além das pirâmides e das múmias: a festa de Bubástis no Egito Antigo” in NEArco: revista eletrônica de Antiguidade, ano VIII, n. 2, 2015, p. 141-158.

POO, Mu-Chou. Wine and wine offering in the religion of Ancient Egypt. Nova Iorque: Routledge, 1995.

QUEIROZ, Felipe de. História do vinho: Pioneiros do vinho, 2010. Disponível em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/pioneiros-do-vinho_2673.html

REGINA, Ivan Carlos. “A história do vinho e as civilizações: dos primórdios ao Antigo Egito” in Revista Engenharia, n. 633, 2017, p. 94-95.

VALDUGA, Luisa. A história do vinho no mundo: entenda como esta bebida colonizou os continentes, 2016. Disponível em: https://blog.famigliavalduga.com.br/a-historia-do-vinho-no-mundo-entenda-como-esta-bebida-colonizou-os-continentes/

17 comentários:

  1. Gostaria de saber se existiam trocas culturais nas civilizações antigas no que diz respeito a relação do "vinho" com a "identidade" naquele contexto. Por exemplo, hoje temos o costume de dizer "vinho chileno" ou "vinho fracês"; oriundos das regiões em que são feitos, criando uma espécie de identidade. Poderia me dizer se na época eles diferenciavam dessa forma ou algo parecido? Tema muito interessante e é muito legal ver a História da Alimentação cada vez mais presente na historiografia atual.

    Marco Antonio Gomes Wasem

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    1. Olá, Marco! Tudo bem?

      Primeiramente, muito obrigado por seu comentário!
      Como consta no texto, a partir do Império Novo, o vinho passa a ter inscrições sobre ano de produção, origem geográfica, propriedade produtora e o nome do enólogo. Uma das amostras encontradas na tumba de Tutankhamun, atualmente no acervo do Museu do Cairo, traz a inscrição: “Ano 9, Vinho da propriedade de Aton do Rio Ocidental, chefe vinhateiro Khaa”, uma outra ânfora trazia: “Ano 5, Vinho da propriedade de Tutankhamun, governante de Tebas, no Rio Ocidental, chefe vinhateiro Khaa” (Cf. FONSECA; JANÉ; IBRAHIM, 2012, p. 147). Isto mostra o quão próximos estavam os modelos do Antigo Egito com aqueles regulamentados na atualidade, levando-nos a pensar que os antigos já refletiam sobre a possível “identidade” de um vinho a partir de sua região produtora.
      Contudo, ainda há mais perguntas do que respostas. Não sabemos ao certo se havia grandes diferenças entre os vinhos produzidos em diferentes propriedades egípcias. As fontes sobre a comercialização do vinho produzido no Egito também são escassas e os comentários sobre as bebidas são bastante pontuais e, quase sempre, feito por viajantes. Os etruscos, por outro lado, parecem ter introduzido na península itálica pré-romana as uvas vitis viníferas gregas, produzindo vinhos que eram comercializados até a Gália, em odres de pele de animais (RIBEIRO, 2016, p. 19). Andrea Zifferero (2010) afirma que a Etrúria era a principal produtora e comercializadora de vinho da Idade do Ferro (entre os séculos X e VII AEC), de modo que é possível supor que sua bebida era conhecida e apreciada (talvez pela limitação de grandes regiões produtoras) em boa parte da Europa. A difusão do vinho é bastante ampliada no período romano, com expansão dos produtores e diversificação das qualidades. Catão, em sua De Agri Cultura, e Varrão, em Res Rusticae, vão ser os primeiros (até onde conhecemos) a escrever sobre os métodos de vinicultura no Mundo Antigo, apresentando as características do vinho romano.

      Espero ter esclarecido um pouco de suas dúvidas!

      Atenciosamente,
      Felipe Ruzene.

      Referências
      FONSECA, Sofia; JANÉ, Maria Rosa Guasch; IBRAHIM, Mahmoud. “O vinho no Antigo Egito: uma história mediterrânea” in Revista Mundo Antigo, v. 1, Jun, 2012, p. 139-155.
      RIBEIRO, Gerson Lodi. História do vinho no mundo romano: vita vinum est. Rio de Janeiro: MauadX, 2016.
      ZIFFERERO, Andrea. Farming landscape of the Tyrrhenian area: Etruscan wine production and trading. In: PASQUALI, Giovanni di. Vinum nostrum: art, science and myths of wine in ancient Mediterranean cultures. Firenze: Giunti, 2010.

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  2. Boa tarde Felipe. Parabéns pelo texto que me deixou com duas perguntas. Primeiro uma de suas fontes (Fonseca) afirma que os egípcios só produziam vinhos tintos. Nas suas considerações, você cita Heródoto que fala "narcóticos, brancos". Esse "brancos" será que não ser refere à vinhos brancos? Outras fontes de sua pesquisa tratam do assunto? Outra pergunta é se há estudos sobre as variedades das uvas cultivadas no Egito Antigo (Tannat, malbec, Sirah, pino Noir, etc)? Obrigado e parabéns novamente.

    Jackson Alexsandro Peres

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    1. Olá, Jackson! Tudo bem?

      Primeiramente, muito obrigado por seu comentário!
      Respondendo suas perguntas: sim, quando Heródoto fala de um vinho branco ele está se referindo à tonalidade da bebida. O que Fonseca, Jané e Ibrahim (2012, p. 146) apresentam em seu texto é que, por um longo tempo, os pesquisadores acreditavam que só se produzia vinhos tintos no Egito – o que não é verdade. Essa ideia vinha pelo mito de criação envolver a cor de sangue e também pela iconografia apresentar sempre uvas de tons negros. Mas os vestígios encontrados nas ânforas de Tutankhamun comprovaram que três tipos de vinho eram produzidos no Antigo Egito: tinto, branco e shedeh (uma outra qualidade de tinto).
      Quanto aos tipos de uva, os egípcios não faziam esta diferenciação em seus rótulos. Então, não sabemos com certeza quais eram as cepas utilizadas. Não podemos sequer afirmar se os vinhos eram varietais (feitos a partir de uma única espécie de uva) ou se eram assemblages (uma mistura de diferentes tipos). Os primeiros a diferenciar as espécies de uvas parecem ter sido os etruscos que adotaram diversas castas vitis viníferas gregas a partir do primeiro milênio AEC e começaram a desenvolver técnicas para domesticação de algumas espécies ainda silvestres. Assim, os etruscos passaram a dividir os vinhos: aqueles destinados ao consumo diário (chamados em latim de “temetum”) eram feitos com uvas autóctones domesticadas e outros vinhos, mais sofisticados, eram produzidos para ocasiões especiais e para as elites, a partir de cepas importadas da Grécia ou Fenícia (RIBEIRO, 2016, p. 19-20). Os antigos já comentavam sobre algumas de suas espécies de uva, como Moscatel, Pinot Noir e Syrah (que muitos acreditam ser originária do Egito).

      Espero ter esclarecido um pouco de suas dúvidas!

      Atenciosamente,
      Felipe Ruzene.

      Referências
      FONSECA, Sofia; JANÉ, Maria Rosa Guasch; IBRAHIM, Mahmoud. “O vinho no Antigo Egito: uma história mediterrânea” in Revista Mundo Antigo, v. 1, Jun, 2012, p. 139-155.
      RIBEIRO, Gerson Lodi. História do vinho no mundo romano: vita vinum est. Rio de Janeiro: MauadX, 2016.

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  3. Primeiro quero parabenizar o texto, pois eu não conhecia sobre o vinho no Egito. Assim como eu, acredito que muita gente nem sabe desta história. O que você acha que aconteceu pra quando falamos em vinho, não credibilizamos os egípcios?

    Suelen Bonete de Carvalho

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    1. Olá, Suelen! Tudo bem?

      Muito obrigado pelos comentários e por sua pergunta.
      Acredito que sejam dois os aspectos centrais que motivam o nosso desconhecimento quanto a vinicultura no Egito. O primeiro é o fato das fontes que tratam sobre esta temática serem relativamente recentes. Os vestígios que revelam a atividade vinícola egípcia são a cultura material, proveniente da arqueologia, e a iconografia, sobretudo de túmulos que representam as etapas da produção dos vinhos. Logo, aqueles pesquisadores que se basearam apenas na literatura que versa sobre o Antigo Egito, acabaram encontrando a nação da cerveja, e legaram a vinicultura apenas aos gregos e romanos. O segundo motivo é justamente a centralidade da cultura greco-romana (Cf. RIBEIRO, 2016) na História do Vinho, o que acaba por deixar de lado os protagonismos egípcios, etruscos, mesopotâmicos, germânicos, etc.
      Espero ter esclarecido um pouco de suas dúvidas!

      Atenciosamente,
      Felipe Ruzene.

      Referência
      RIBEIRO, Gerson Lodi. História do vinho no mundo romano: vita vinum est. Rio de Janeiro: MauadX, 2016.

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    2. Esclareceu sim!!!
      Muito obrigada!!!!

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  4. Bom dia! Parabéns pelo artigo.
    Essa importância dada ao vinho pelos egípcios pode ter sido passada aos hebreus durante o tempo que tiveram contato? Isso pode ter influenciado no uso do vinho pelo Cristianismo?

    Ana Paula Sanvido Lara

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    1. Olá, Ana! Tudo bem?

      Muito obrigado por seu comentário e pergunta.
      A associação do vinho com a religião é uma constante na Antiguidade, a bebida estava presente em rituais, cerimônias, festas e libações das mais diversas culturas. Neste sentido a fricção entre os povos pode ter auxiliado a disseminar o consumo de vinho e os Hebreus se relacionaram com muitas culturas viníferas – como egípcios, mesopotâmicos, gregos e romanos. Jacques Le Goff afirmou que o judaísmo é uma “religião de recordação” e este dever da memória constituinte alcança, inclusive, a alimentação, de modo que, historicamente, o vinho se tornou parte importante da libação e da ritualística judaica (Cf. Êxodo, 29: 40). Todavia, não podemos afirmar que tal característica advém exclusivamente da influência egípcia, uma vez que é partilhada em boa parte do Mundo Antigo.
      Vale ressaltar que o vinho da tradição judaica é preparado de acordo com as leis da alimentação Casher, conforme rituais próprios e com certificação de um rabino da comunidade (Cf. SATO, 2010). Assim, diferenciava-se o vinho que cabia ao consumo dos hebreus e aqueles consumidos pelos outros povos, não monoteístas. No século I EC, os primeiros cristãos também se apropriaram do seder judaico reinterpretando o sentido do pão e do vinho (LIMA, 2012, p. 123). Dessa forma, a relação da tradição cristã com a vinicultura parece estar mais próxima dos caracteres permanentes do judaísmo e do paganismo romano, que influenciaram fortemente na ritualista católica. O vinho como elemento religioso é uma continuidade das práticas da antiguidade que foram aprimoradas e reinterpretadas no Medievo e na Modernidade (CARLAN, 2012).
      Espero ter esclarecido um pouco suas dúvidas!

      Atenciosamente,
      Felipe Ruzene.

      Referência
      CARLAN, Cláudio Umpierre. Vinho: Comércio e Poder no Mundo Antigo. In: CANDIDO, Maria Regina (Org.). Práticas Alimentares no Mediterrâneo Antigo. Rio de Janeiro: NEA/UERJ, 2012.
      LIMA, Junio Cesar Rodrigues. Seder Pessach: História, Identidade e Memória ao Redor da Mesa Judaica. In: CANDIDO, Maria Regina (Org.). Práticas Alimentares no Mediterrâneo Antigo. Rio de Janeiro: NEA/UERJ, 2012.
      RIBEIRO, Gerson Lodi. História do vinho no mundo romano: vita vinum est. Rio de Janeiro: MauadX, 2016.
      SATO, Geni Satiko. Produção e Consumo de Vinhos Casher: Preservação da Cultura Judaica. Anais do V ENEC - Encontro Nacional de Estudos do Consumo, Rio de Janeiro, 2010.

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  5. Saudações,

    Em seus estudos você verificou se há alguma relação entre consumo do vinho, estados de transe/contato com divindades e religiosidade? Se sim, por favor, me diga como era tal relação do ponto de vista social e religioso.

    Além disso, sabes se há no Egito antigo alguma relação entre o consumo da bebida pelos pobres, a fim de que eles se esquecessem dos problemas e sofrimentos da vida, conforme é aconselhado em um provérbio antigo destinado ao rei Lemuel (de autoria da mãe dele)?

    Obrigado,

    Att. Luís Fernando de Souza Alves

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    1. Olá, Luís! Tudo bem?

      Muito obrigado por seu comentário e pergunta.

      No Egito o vinho era uma bebida mais cara e escassa, de modo que, no cotidiano, a ebriedade por vinho era algo limitado a alguns poucos indivíduos. As exceções parecem ter sido as celebrações, como o festival Tekh (a festa da embriaguez, em culto a Hathor) ou as festividades a Bastet. Nestes casos a cerveja e o vinho eram consumidos ferozmente, pois a embriaguez era totalmente aceitável – por vezes era até encorajada como forma de homenagem à deusa. Há iconografias retratando pessoas bêbadas, além de descrições de epifania e contato com o sobrenatural alcançados após o consumo de bebidas em festivais religiosos. Também ocorria a midríase, efeito de sonolência, que pode ser percebido nos olhos de algumas pessoas retratadas nos murais que decoram antigos templos. A cerveja por si própria já era um elemento sacro à cultura faraônica, o vinho também, sobretudo a partir do Período Ptolomaico, quando a família real possuía ascendência macedônia. Contudo, para funções narcóticas (tanto religiosas, quanto afrodisíacas) eram mais utilizadas as raízes e plantas, como mandrágoras e lótus (GRALHA, 2012, p. 105). Se quiseres saber mais a respeito do uso religioso das bebidas alcoólicas no Antigo Egito, recomendo a leitura do breve artigo “A cerveja no Egito Antigo: desde a intoxicação ao seu uso religioso” (COSTA, 2017).
      Quanto a relação das pessoas mais pobres com as bebidas é possível supor, se olharmos para as representações da arte e da literatura, que eram utilizadas para que seus efeitos amansassem as adversidades da vida. No Papiro Ebers (um dos tratados médicos mais antigos do mundo, escrito no Egito em 1500 AEC) há a recomendação do uso recreativo de cânhamo, ópio e papoula por seus efeitos sedativos e anestésicos. Relata-se também o consumo de vinho e cerveja em busca de funções “sedativas do sistema nervoso”. Ainda sim, desconheço algum estudo que relacione tais usos com as questões sociais na Antiguidade.
      Espero ter esclarecido um pouco suas dúvidas!

      Atenciosamente,
      Felipe Ruzene.

      Referência
      COSTA, Márcia J. A cerveja no Egito Antigo: desde a intoxicação ao seu uso religioso. Arqueologia egípcia, 2017. Disponível em: http://arqueologiaegipcia.com.br/2017/03/06/a-cerveja-no-egito-antigo-desde-a-intoxicacao-ao-seu-uso-religioso/
      GRALHA, Julio. Abordagem sócio-cultural da Alimentação no Egito Antigo: quando comer e beber não é somente beber e comer. In: CANDIDO, Maria Regina (Org.). Práticas Alimentares no Mediterrâneo Antigo. Rio de Janeiro: NEA/UERJ, 2012.

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  6. Caro Felipe Ruzene, parabéns pela sua pesquisa e por seu artigo! Ótima leitura! Você citou que a presença da uva no Egito é atestada desde 4000 a 3500 AEC, reforçando o entendimento da intensa troca comercial que as diferentes regiões egípcias já mantinham com vários povos da Ásia e do Oriente Médio antes do período faraônico. Nas suas leituras, você chegou a se deparar com algum texto que tratasse dessas trocas comerciais e da importância do vinho nesse comércio? Imagino que, para essas sociedades mais antigas, o vinho fosse um produto de luxo, como no Egito Antigo. Muito obrigado!

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    1. Olá, Eduardo! Tudo bem?

      Primeiramente, muito obrigado por seu comentário e pergunta!
      Encontra-se os mais antigos vestígios de produção vinícola por volta dos 5000 AEC na região sul da cordilheira do Cáucaso, estendendo-se desde o Leste Europeu até a Ásia Ocidental, entre o mar Negro e o Cáspio, passando pela Capadócia, região histórica da Anatólia Central, na atual Turquia (CARLAN, 2012, p. 83). Até a década de 1920, os pesquisadores criam que a vinha era um produto exclusivo da cultura oriental (CARLAN, 2012, p. 84), mas, atualmente, como tu bem lembraste, sabemos das trocas comerciais que o Egito (e outros povos) mantinha com várias culturas da Ásia e do Oriente Médio, mesmo antes do período faraônico.
      A partir do III milênio AEC, surge o Império Elamita como nova potência do sudoeste iraniano. Sua economia era baseava no comércio, tradição vislumbrada na vasta quantidade de registros conservados em tábuas de argila. Com os fluxos migratórios chegam ao planalto iraniano, provenientes da Ásia Central, as primeiras vinhas – “ocorrendo uma união da tradição vinícola com a tradição comercial” (CARLAN, 2012, p. 85). Assim, o vinho passa a ser importante produto do comércio entre as culturas antigas, salvaguardando este poder até os fins da Antiguidade e mesmo durante o Medievo.
      Para compreender melhor este assunto recomendo a leitura do artigo “Vinho: comércio e poder no Mundo Antigo” do Dr. Cláudio Carlan (UNIFAL), que trata justamente das trocas comerciais de vinhos e vinhas nas culturas da Antiguidade.
      Espero ter esclarecido um pouco de suas dúvidas!

      Atenciosamente,
      Felipe Ruzene.

      Referências
      CARLAN, Cláudio Umpierre. Vinho: comércio e poder no Mundo Antigo. In: CANDIDO, Maria Regina (Org.). Práticas Alimentares no Mediterrâneo Antigo. Rio de Janeiro: NEA/UERJ, 2012.

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    2. Muito obrigado pela resposta! Esclareceu sim! Parabéns novamente pelo ótimo estudo!

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  7. Boa noite!
    Não sabia que o Egito tinha a cultura do vinho. Apesar de que os egípcios apreciam muito essa bebida. Mas, podemos entender porque esse gosto inigualável, já que o rio Nilo era um forte atrativo para desenvolver muitas culturas, inclusive as uvas.
    Parabéns pelo texto, bastante esclarecedor.

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