Felipe Alexandre Silva de Souza

O DESTINO DA ANATÓLIA SERÁ DECIDIDO A FOGO E SANGUE E NADA SERÁ POUPADO: A GUERRA GRECO-TURCA (1919-1922)

 

Introdução

Uma das consequências da Grande Guerra (1914-1918) foi o desfecho da chamada “Questão Oriental”. Após mais de um século em processo de enfraquecimento, o Império Otomano, derrotado no conflito, foi ocupado pelos países vitoriosos, e os representantes do sultão Mehmed VI foram obrigados a assinar o Tratado de Sèvres em 10 de agosto de 1920, dividindo os domínios da Porta de Constantinopla entre Grã-Bretanha, França, Itália e Grécia. Os nacionalistas turcos se insurgiram contra essa partição.

Os nacionalistas, de armas na mão, sairiam vitoriosos da luta contra as potências, e fundariam a República da Turquia em 1923. A Guerra de Independência Turca foi um conjunto de campanhas militares interligadas. Neste texto, faremos uma breve narrativa de uma dessas campanhas: o embate entre os exércitos do Movimento Nacional da Turquia e do Reino da Grécia na Anatólia. O objetivo é lançar luz sobre alguns desdobramentos das tensas relações entre turcos e gregos no início do século XX.

 

Megali Idea: a Grécia irredenta

 O território da moderna Grécia foi conquistado pelos otomanos alguns anos após a tomada de Constantinopla pelo sultão Mehmet II, o Conquistador (1453): Atenas foi capturada em 1458, e, dois anos depois, todo o Peloponeso estava sob domínio muçulmano. A dominação se estenderia até o início do século XIX, quando a vitória helena na Guerra da Independência Grega (1821-1831) deu origem ao estado nacional grego, governado nos marcos de um regime de monarquia constitucional parlamentar.

No entanto, as potências europeias — Grã-Bretanha, França e Rússia —, que acompanharam e interferiram na luta pela independência grega, não desejavam que o novo estado helênico fosse demasiadamente grande. Uma Grécia muito extensa poderia desestabilizar o combalido Império Otomano e eventualmente causar o seu esfacelamento, o que poderia desencadear uma guerra entre os principais países europeus pelos domínios do sultanato — algo que nenhum círculo governamental considerava conveniente no momento. Dessa forma, graças a pressões e manobras diplomáticas de Londres, Paris e São Petersburgo, a moderna Grécia foi fundada sobre um território muito pequeno, e, por conta disso, entre 2/3 e 3/4 da população étnica grega ficaram de fora das fronteiras do novo país. Não foi por acaso que o Rei Oto — originário de uma dinastia bávara e imposto pelas potências — recebeu o título de Rei da Grécia, e não Rei dos Gregos: era necessário não encorajar interesses expansionistas para além das fronteiras estabelecidas [Sowards, 1995].

O caráter minúsculo da Grécia passou a ser fonte de descontentamento para todas as forças políticas do país, e ao longo das décadas o irredentismo helênico — o clamor pela incorporação à Grécia de todas as terras habitadas por gregos — foi tomando corpo e passou a ser conhecido como Megali Idea, “a grande ideia”. Segundo Sowards [1995], o objetivo da Megali Idea era expandir o estado grego pelo Mediterrâneo e pelos Balcãs e torná-lo lar de todos os gregos, recuperando um passado mítico da Antiguidade Clássica e especialmente do império de Constantinopla.

 

“O [...] estado [grego], com capital em uma Atenas de pouco mais de 5 mil habitantes, que nada tinha a ver com a gloriosa pólis de Péricles, compreendia então apenas as regiões do sul e o Peloponeso. Mas ambicionava conquistas a Macedônia, o Épiro, o Dodecaneso, as ilhas do Egeu, Creta, Chipre, Trácia e as costas ocidentais e setentrionais da Anatólia. E tudo isso com capital em Constantinopla, para reinstaurar por fim o esplendor do Império Bizantino. Toda a política exterior do novo Estado no século XIX e na primeira parte do século XX girou em torno desse ideal” [Pi, 2020, sp].

 

O irredentismo helênico, como era de se esperar, se chocou com o Império Otomano, onde residia a maioria dos gregos. Em 1897 a Grécia incentivou e apoiou uma revolta separatista na ilha de Creta, então pertencente ao sultanato. A revolta fracassou e as potências condenaram Atenas pelo que consideraram interferência indevida em assuntos otomanos. Porém, o maior embate seria travado na Anatólia, também conhecida como Ásia Menor. Ao mesmo tempo em que era o coração do Império Otomano, a Anatólia (nome que significa “Oriente” em grego antigo) possuía uma população grega considerável (aproximadamente 650 mil habitantes, perante 4 milhões de turcos) e tradição helênica milenar. Por conta disso, a principal aspiração da Megali Idea era reconquistar essa antiga região bizantina e, em seguida, retomar Constantinopla [Fontana, 2017]. Cumpre ressaltar, porém, que os gregos da Ásia Menor dificilmente tinham uma forte autoconsciência de si mesmos como gregos em um sentido nacionalista. Possuíam pouco vínculo com a Grécia e estavam agrupados em comunidades distintas. Um grego da área de Esmirna tinha pouco a ver com um grego de Pontos (ambas áreas da Anatólia), e os dois tinham pouco a ver com os gregos residentes no estado centralizado em Atenas. Muitos dos helenos da Ásia Menor tinham o turco como língua materna e sequer falavam grego, embora professassem o cristianismo ortodoxo. Outros falavam um grego muito arcaico, bastante diferente do grego moderno, mas eram de fé muçulmana. Dificilmente poderia se formar uma nação homogênea a partir dessa mescla complexa [Pi, 2020].

 

Independência turca, catástrofe grega

Segundo o historiador Sean McMeekin [2012], as reflexões tradicionais a respeito da Grande Guerra tendem a centralizar muito os aspectos europeus do conflito e indevidamente considerar secundária a importância do Império Otomano. Na interpretação de McMeekin, o sultanato de Constantinopla é central para as origens do conflito, uma vez que o Império russo e o Reich alemão, rivais, tinham ambições imperiais nas regiões do sultão. O kaiser Wilhelm II queria uma aliança com Constantinopla para fomentar uma guerra global contra as forças da Entente — em especial a Grã-Bretanha, cujo Império era habitado por um grande número de muçulmanos (no Egito, na Índia e no Golfo) que, esperava o Kaiser, se insurgiriam contra Londres se o califado otomano assim ordenasse. No caso dos russos, havia intenção se apoderar dos estreitos de Bósforo e Dardanelos para acessar as águas quentes do Mediterrâneo. Foi em grande parte por causa dessas tensões referentes aos interesses conflitantes no Império Otomano que as tensões estavam escalando em 1914, chegando ao ponto em que “uma pequena perturbação poderia facilmente colocar em movimento a corrida pela herança otomana” [McMeekin, 2012, p.4]. O assassinato do arquiduque austríaco Francisco Ferdinando pelo nacionalista sérvio-bósnio em Sarajevo teria sido, em última instância, um pretexto para Berlim e São Petersburgo darem a largada em busca de seus objetivos [McMeekin, 2012]. Como se sabe, Constantinopla entrou na guerra ao lado da Alemanha, ao atacar a Rússia no Mar Negro em 29 de outubro de 1914:

 

“Uma vez que aceitamos a centralidade do Império Otomano nas origens — e curso — da Primeira Guerra Mundial, muitos eventos de outra forma inexplicáveis começam a se encaixar. Por que, no final das contas, em um conflito supostamente europeu em suas origens e significado, milhares de soldados e marinheiros britânicos, ANZACs [membros do exército conjunto da Austrália e da Nova Zelândia] e franceses lutaram, sangraram e morreram em Dardanelos, Galípole e nas penínsulas troianas? Por que houve lutas tão selvagens e atrocidades civis explosivas no front do Cáucaso, aparentemente tão distantes dos campos de batalha europeus decisivos? Por que, se a guerra era um assunto predominantemente europeu, muitas de suas campanhas memoráveis ocorreram no oriente médio otomano [...]? Por que, também, a maioria das controvérsias diplomáticas duradouras tem a ver com a herança otomana, da partição ‘Sykes-Picot’ do império [...] à Declaração Balfour, o mandato palestino, e a criação de Israel, assim como as amardas disputas de fronteira entre estados [dos antigos territórios otomanos] [...] como Iraque, Jordânia e Kuwait?” [McMeekin, 2012, p.3]

 

Derrotados, o sultanato assinou um armistício em 30 de outubro de 1918. No dia 13 de novembro. O custo humano da guerra fora tremendo para os otomanos: somando-se as mortes acarretadas por combate e por outras consequências da guerra (tal como fome e doenças), o Império Otomano perdera cerca de 20% de sua população — a título de comparação, registre-se que a maior taxa de mortalidade na frente ocidental foi a francesa, em torno de 3,5% [McMeekin, 2016]. No dia 13 de novembro de 1918, a decadente Constantinopla foi ocupada por forças britânicas, francesas, italianas — e gregas.

A participação da Grécia na Grande Guerra se deu fundamentalmente com o objetivo de fazer avançar a pauta irredentista da Megali Idea. A Grécia já não era estranha a buscar ampliações territoriais por meios bélicos. Em 1912, na Primeira Guerra Balcânica, formara uma coligação cristã com Bulgária, Sérvia e Montenegro (a Liga Balcânica) para declarar guerra ao Império Otomano, derrotando-o. Os gregos ocuparam Tessalônica (hoje a segunda maior cidade grega depois de Atenas), boa parte do Épiro, Creta e outras ilhas do Egeu. A partição da Macedônia levou a desentendimentos entre os aliados e, em 1913, eclode a Segunda Guerra Balcânica quando do malfadado ataque da Bulgária à Sérvia e à Grécia. Desta feita, os gregos tomaram outra porção do Épiro e a metade sul da Macedônia. Nesses conflitos — nos quais seus exércitos massacravam e expulsavam camponeses muçulmanos das áreas conquistadas —, a Grécia conseguiu dobrar seus territórios e sua população [Fontana, 2017]. Em 1914, os líderes gregos calculavam que o conflito poderia trazer grandes mudanças territoriais para o Império Otomano e para a Bulgária (que aderira às Potências Centrais e onde os helenos também clamavam território). Se permanecesse neutra, a Grécia não teria lugar na mesa de negociações do pós-guerra. O primeiro-ministro grego, Eleftherios Venizelos, previa que as Potências Centrais seriam derrotadas; portanto, se os gregos aderissem à Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia), poderiam ser recompensados com porções da Bulgária e do Império Otomano.

Após uma complexa e arrastada disputa entre Venizelos e o rei Constantino, germanófilo e partidário da neutralidade, a Grécia declara guerra às Potências Centrais em 30 de junho de 1917. O primeiro-ministro britânico Lloyd George apoiava o projeto da Grande Grécia de Venizelos, por considerar que o Mediterrâneo Oriental, cujo controle era vital para assegurar a rota das ilhas britânicas até a colônia indiana via Suez, estaria seguro com um aliado grego fortalecido na região. Em 15 de maio de 1919 (com Constantinopla já rendida), o exército grego, com apoio britânico, desembarca na Anatólia ocidental, em Esmirna, uma importante cidade conhecida por sua expressiva comunidade helênica. Não demorou até os gregos, sob a justificativa de proteger a população cristã, começarem a saquear e assassinar a população turca da região, incluindo civis [Fontana, 2017].

Quando o Tratado de Sèvres foi assinado em 10 de agosto de 1920, o coração do Império Otomano foi desmembrado: grande parte do litoral mediterrâneo da Anatólia ficaria sob tutela de franceses e italianos; armênios e curdos ocupariam a Anatólia oriental; o controle das águas navegáveis entre o Mediterrâneo e o Mar Negro ficaria a cargo de uma comissão internacional; e os gregos ficariam com Esmirna e a região da Trácia, que administrariam até 1925, quando seria realizado um plebiscito para decidir a incorporação dessa área à Grécia. No entanto, as aspirações de irredentistas liderados por Venizelos extrapolava muito o que lhes fora concedido em Sèvres. E avançaram pelo interior da Anatólia em busca de realizar a Grande Grécia sob uma campanha sistemática de terror. Nas localidades que ocupava, o exército helênico desarmava os turcos muçulmanos, armava os cristãos e os incitava a atos de vingança, estimulando uma sequência de assaltos, agressões, estupros e profanações de mesquitas. A onda de brutalidade gerou uma grande onda de turcos refugiados, que se deslocavam para o leste tentando fugir das armas gregas.

Enquanto isso, na cidade de Ancara, o Movimento Nacional Turco, liderado pelo prestigioso militar herói da campanha de Dardanelos, Mustafá Kemal Paxá (que posteriormente viria a ser conhecido como Atatürk, “pai dos turcos”), negou-se a aceitar os termos de Sèvres e se sublevou, formando uma Assembleia Nacional que não mais reconhecia a autoridade do sultão Mehmed VI, considerado um fantoche das potências ocidentais. Combinando avanços armados com negociações, o movimento combateu os armênios no Cáucaso, firmou um pacto de apoio com os soviéticos, negociou com os franceses e os italianos para a retirada de ambos. E, armas na mão, lançaram-se à reconquista da Anatólia, para retirá-la das mãos gregas. Tratava-se de um território vital para o plano de Mustafá Kemal. Ele não pretendia recompor o Império Otomano, mas sim criar uma nação moderna, republicana, que se estendesse pelos territórios habitados majoritariamente por turcos — a Ásia Menor. Iniciava-se a Campanha da Anatólia, também conhecida como frente ocidental da guerra de independência turca [Fontana, 2017].

Os gregos mantiveram uma vantagem consistente durante 1921, conseguindo avançar pela Ásia Menor [Sowards, 1995] e deixando um rastro de sangue por onde passavam. Em 1922, no entanto, as forças gregas se estagnaram, e o contra-ataque turco se tornou paulatinamente mais forte — até começar a fazer os gregos recuarem. Em sua retirada, os helenos empreenderam a tática de terra arrasada, causando novo rastro de destruição — incendiando casas, árvores e vilas turcas inteiras, e matando rebanhos de gado. Harry Lamb, cônsul britânico em Esmirna, descreveu a situação dantesca que presenciava:

 

“Os gregos perceberam que precisam sair [da Anatólia], mas decidiram deixar um deserto em seu caminho [...]. Tudo o que eles têm tempo e possibilidades de tomar, vão tomar e levar para a Grécia; os turcos serão saqueados e terão seus lares queimados. O destino da Anatólia será decidido a sangue e fogo, apenas. Nada será poupado.” [Lamb, apud McMeekin, 2016, p.459]

 

Os gregos perderam completamente a capacidade de inciativa e sua situação se tornou irreversível quando os britânicos deixaram de subsidiar e apoiar politicamente o projeto irredentista de Venizelos: diante do avanço dos nacionalistas turcos e da necessidade de preservar as novas possessões britânicas no Iraque — antigo território otomano —, Londres calculou que seria mais interessante a médio prazo manter relações amistosas com um futuro novo estado turco do que se desgastar apoiando um empreendimento turco que se tornara desastroso [McMeekin, 2016].

 

A vingança dos turcos foi terrível e talvez tenha se igualado às atrocidades dos soldados gregos. Os nacionalistas não pouparam sequer os gregos que já viviam na Anatólia. Estes sofreram “deportações indiscriminadas e crimes que ainda hoje não foram esclarecidos. Especialmente sangrenta foi a situação na região de Ponto” [Pi, 2020, sp].

Outro foco de sanguinolência foi Esmirna, que, com sua população helênica, havia se convertido em símbolo da invasão grega, a porta de entrada pela qual as forças de Atenas começaram a derramar sangue turco. E tornou-se imperativo para os turcos subjugarem aquela cidade que passava a ser considerada um antro de infiéis. E os soldados do Movimento Nacional foram à desforra, sem diferenciar soldados de civis gregos. A população cristã — grega e armênia — foi massacrada e tentou fugir em massa, junto com os soldados da Grécia, pulando em barcos britânicos, franceses e americanos que estavam ancorados no porto. Em 13 de setembro de 1922, Esmirna foi tomada pelas chamas que durariam dias, e até hoje não se tem certeza de quem teria iniciado o incêndio. Derrotados, os soldados gregos fugiram de volta para a Grécia [McMeekin, 2016].

 

Considerações finais

Depois da vitória sobre os gregos, Mustafá Kemal e o Movimento Nacional tinham assegurado o território para fundar um estado nacional. Na cidade suíça de Lausanne foi firmado, em julho de 1923, um tratado de paz reconhecido por Grécia, Romênia, França, Grã-Bretanha e Itália, encerrando oficialmente as hostilidades, e a nova República Turca foi reconhecida como soberana.

O Tratado de Lausanne também determinava que os gregos étnicos (cerca de dois milhões) deveriam abandonar a Anatólia e se dirigir à Grécia, onde seriam acolhidos como súditos da monarquia helena. Em contrapartida, cerca de meio milhão de muçulmanos que habitavam a Grécia deveriam sair do país em direção à nova Turquia que os receberia. Essa troca populacional, feita à revelia das pessoas que seriam removidas a força de lares que suas famílias ocupavam por gerações, foi a forma encontrada de resolver os ódios entre gregos e turcos, potencializados durante a sangrenta disputa pela Ásia Menor.

Pouco depois da inauguração da moderna Turquia, a historiografia favorável ao kemalismo passou a chamar as lutas travadas pelo Movimento Nacional Turco de Guerra da Independência Turca. Os embates com os gregos na Ásia Menor ficaram conhecidos como Campanha da Ásia Menor ou Frente Ocidental da Guerra de Independência Turca. Há um título mais neutro: Guerra Greco Turca de 1919-1922.

Depois da derrota na Anatólia, na atribulada Grécia o projeto da Megali Idea foi definitivamente enterrado. Os gregos chamam o episódio de “Catástrofe da Ásia Menor” ou de “Grande Catástrofe”. Até hoje o governo grego, sem destacar as atrocidades gregas no combate contra os turcos, exige que a comunidade internacional reconheça os massacres contra gregos na Anatólia como um genocídio.

 

Referências

Felipe Alexandre Silva de Souza é doutorando em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF-PPGH) e bolsista do CNPq.

FONTANA, Josep. El siglo de la revolución. Barcelona: Crítica, 2017.

MCMEEKIN, Sean. The Ottoman endgame. New York: Penguin, 2016.

MCMEEKIN, Sean. The war of the Ottoman succession. In: Historically speaking. Johns Hopkins University Press, v.13, n1, 2012.

PI, Jaume. La gran catástrofe de la frontera grecoturca, 2020. Disponível em: https://www.lavanguardia.com/historiayvida/historia-contemporanea/20200418/48537954597/gran-catastrofe-frontera-grecia-turquia

SOWARDS, Steven W. Greek nationalism, the “Megale Idea” and Venizelism to 1923. 1995. Disponível em: https://staff.lib.msu.edu/sowards/balkan/lect14.htm

8 comentários:

  1. Bom dia, gostei muito do seu trabalho e por isso permita-me primeiramente parabenizá-lo.
    Em segundo, gostaria de saber: o senhor falar sobre o "apagamento" (poderíamos chamar assim?) da participação do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, à quais razões poderíamos atribuir esse movimento?

    Desde já agradeço,
    Emilly Layane de Sá Lima

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    1. Bom dia, Emilly, obrigado pela pergunta!
      De fato, na produção ocidental sobre a Primeira Guerra Mundial, é muito comum não mencionarmos o Império Otomano. Na minha opinião, isso acontece por uma série de razões. Em primeiro lugar, a língua turca é muito pouco estudada fora da Turquia, então fica muito difícil consultar fontes primárias turcas. ALém disso, pela importância da cultura francesa para o Ocidente, tendemos a focar mais na participação da França. E os franceses têm uma tradição forte de historiografia sobre a Primeira Guerra, a qual nos tendemos consumir.
      Acho também que tendemos a pensar a guerra de forma muito focada no episódio que a desencadeou (o assassinato de Francisco Ferdinando), e por conta disso acabamos também prestando mais atenção ao Império Austro-Húngaro.
      Além de tudo isso, há a visão "orientalista" que dá a impressão que o Império Otomano era uma força medieval cujo estudo é menos importante.
      Se você tiver interesse, eu recomendo que leia "O expresso Berlim-Bagdá" de Sean McMeekin, que foi editado no Brasil pela Globo. Nesse livro ele fala bastante a respeito da centralidade do Império Otomano.

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  2. olá. parabéns pelo texto apresentado.
    meu questionamento. Quais seriam as implicações políticas e sociais advindas de "um reconhecimento" dos massacres impostos às populações gregas da Anatólia, no atual quadro geopolítico?

    agradeço
    Válter Ap. Barcala

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    1. Boa noite, Valter, obrigado pela pergunta! Creio que não aconteceria nada de grave, já que Turquia e Grécia passaram por tensões piores durante a Guerra Fria sem grandes consequências. Uma vez relativamente recente foi em 1987 por conta de uma disputa por regiões do Egeu, e outra, mais grave, foi em 1974, quando a ditadura dos coronéis que governava a Grécia invadiu o Chipre buscando anexá-lo (por conta da população grega que mora lá), e a Turquia invadiu outra parte desse país para defender a população turca que também habitava o Chipre.
      Tanto Grécia quanto Turquia fazem parte da OTAN, e essa organização desencoraja que seus membros entrem em choque armado entre si.
      No entanto, como a Turquia é aliada dos interesses do "Ocidente" no Oriente Médio, acho muito difícil que EUA, Inglaterra, etc reconheçam o massacre de gregos na Anatólia como genocídio, uma vez que sempre procuram não causar mal estar com aliados.

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  3. Olá, Felipe! Parabéns pelo texto, que é realmente muito interessante. Além dos conflitos entre turcos e gregos, fiquei curioso a respeito de um detalhe sobre a relação de Ataturk e os nacionalistas turcos com a União Soviética; principalmente considerando que os antigos impérios russo e otomano foram rivais geopolíticos de longa data.

    No texto, você fala de um certo apoio soviético aos turcos. Gostaria de saber se nas suas pesquisas você encontrou mais detalhes sobre a extensão desse apoio (se envolveu dinheiro, armas, apoio logístico...) e se você identificou alguma expectativa dos soviéticos, naquele contexto, de expandirem o comunismo para a Turquia? Ou se eles tinham outros interesses estratégicos na aliança com os turcos?

    Obrigado!

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    1. Boa noite, Bruno, obrigado pela pergunta!
      Na pesquisa, eu encontrei poucas referências sobre a Rússia. De fato, os Romanov viam o Império Otomano geralmente como rivais, principalmente pelo fato de que os russos queriam controlar os estreitos de Bósforo e Dardanelos (de propriedade otomana) para acessar as águas quentes do Mediterrâneo.
      No recorte temporal que eu abordo no meu texto, os russos haviam acabado de fazer a revolução em 1917 e passavam por um violento processo de guerras civis que seriam concluídas apenas em 1922, possibilitando o estabelecimento da URSS. Durante esse período, os bolcheviques, então no governo, fizeram acordos com os nacionalistas turcos basicamente assegurando que não interfeririam na luta de Ataturk contra a independência. Afinal, os russos já estavam às voltas com o caos em seu próprio país, e creio que não tinham interesse em expandir o comunismo para a Turquia (embora tenham feito nas regiões do Cáucaso próximas à Turquia, na Armênia). Além disso, devido à precariedade dos bolcheviques na época, acho bem pouco provável que eles tenham enviado armas e dinheiro. Tudo indica que foi um acordo de não agressão para que o novo governo russo pudesse poupar esforços.

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  4. Boa noite, Felipe. Parabéns pelo seu trabalho!! Está muito bem escrito. Você poderia citar alguma outra característica do irredentismo helênico citado no texto?
    ***
    Greyce O. da Cunha

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    1. Bom dia, Greyce! Obrigado pela pergunta!
      Creio que uma característica importante que eu deixei de mencionar é que havia uma cisão dentro do irredentismo.
      Havia aqueles que pensavam que bastava tentar recuperar a glória de uma Antiga Grécia, vista de forma bastante idealizada, e promover essa chamada cultura clássica, excluindo ao máximo possível os elementos turcos dos costumes gregos. Foi por isso que Atenas foi escolhida como capital. No século XIX, não se tratava apenas de uma cidade pequena, de 5 mil habitantes, como eu mencionei no texto, mas também de uma cidade empoeirada, pobre e sem importância, que já não tinha nada a ver com a Atenas da Antiguidade. Além disso, também buscava-se resgatar a língua grega clássica, recuperando expressões e palavras antigas e tentando desprezar o grego "demótico", que era o grego popular, moderno, falado pela maioria da população. Por conta disso, até a guerra civil grega no século XX (1943-1949), na Grécia os documentos oficiais eram escritos em grego clássico, que a maioria da população grega não conseguia entender.
      Por outro lado, havia aqueles que pensavam menos na preservação da cultura clássica do que num referencial do Império Bizantino, e por isso queriam reconquistar Constantinopla e criar uma Grande Grécia.
      A guerra greco-turca de que falei no texto teria sido, por assim dizer, a vitória da vertente mais expansionista e "bizantina" (entre muitas aspas) do irredentismo.

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